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A redenção da democracia

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28.10.2025

Vimos, na semana passada, como os intelectuais tendem a enamorar-se de um certo determinismo histórico, caindo muitas vezes na tentação do inevitável. Tal não é surpreendente se atendermos ao modo como o nosso cérebro funciona: visando a economia de esforço, estamos programados para encontrar padrões e sabermos, assim, responder de modo rápido e eficiente aos desafios que surgem.

Trata-se de uma herança evolutiva e que se mantém pela sua utilidade, sobretudo no domínio social e político: se a natureza humana não muda, as dinâmicas sociais e políticas tenderão a repetir-se. É por isso que o conhecimento histórico é tão importante em política, e talvez resida aí a razão pela qual os programas e os livros sobre história são tão populares: sabemos que eles contêm verdades intemporais.

O problema encontra-se em considerar que o jogo está fechado, que a história já está escrita e que as coisas se sucedem de modo inevitável. Um defeito que afeta, como Rui Ramos recorda recorrentemente, muitos historiadores: o de olharem para a história como se o desfecho fosse inevitável. Em sentido contrário, parece haver um meio termo entre tendências que resultam da realidade-tal-qual-ela-é e da liberdade individual, de poder introduzir novidade no mundo ou influenciar o curso dos acontecimentos.

O espírito liberal reside nesta resistência à inevitabilidade e é hoje particularmente importante de ser recordado quando parecemos mergulhados num paradigma de inevitabilidade tecnológica: como se estivéssemos condenados a deteriorar a nossa condição humana em telemóveis, redes sociais e apps de dating, bots de inteligência artificial e descobertas científicas que desejam colocar o ser humano no lugar de Deus. E como se estivéssemos também condenados, recordando Platão, a assistir à deterioração dos regimes democráticos e à sua transição para a tirania.

Apesar do desconforto gerado pela proposta........

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