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A democracia tem limites?

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03.06.2024

Uma expressão fundamental no âmbito das teorias da democracia resulta da política norte-americana e é traduzida habitualmente como “a sala fumarenta das traseiras” [smoke-filled back room]. De acordo com os historiadores, ela remete para uma circunstância histórica particular: em 1920, os delegados republicanos juntaram-se para escolher o seu candidato em Chicago, mas após vários dias de votação não foi possível chegar a consenso. Os velhos dirigentes partidários reuniram-se, então, numa sala privada até decidirem que o nomeado seria Warren G. Harding. Como Steven Levitsky e Daniel Ziblatt contam em Como morrem as democracias,

“A Velha Guarda, como os jornalistas lhes chamaram, serviu-se de bebidas, fumou charutos e discutiu noite dentro como sair do impasse para chegar ao candidato de que os 493 delegados precisavam para a nomeação.”

Com o tempo, a expressão “smoke-filled back room” acabou por assumir um sentido metafórico para a circunstância de importantes decisões políticas serem tomadas pelo grupo restrito que detém o verdadeiro poder nas instituições (senadores, barões, elites). Contudo, ao longo das décadas seguintes e com o aprofundamento democrático das sociedades ocidentais, a ideia de decisões tomadas na sala dos fundos (cada vez mais higienizadas) tornou-se progressivamente menos popular: essas decisões eram entendidas como reveladoras do fosso existente entre representantes e representados, pelo que não representavam verdadeiramente os interesses da maioria.

No caso norte-americano, o momento de mudança aconteceu no final da década de 1960, em particular após a violência que marcou o congresso democrata de 1968 em Chicago, entre o assassinato de Robert Kennedy dois meses antes e os protestos contra a Guerra no Vietname. As imagens de violência que........

© Observador


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