Este Sínodo não vai dar em nada
Afirmar que este Sínodo não vai mudar nada tornou-se uma frase comum. Mas, avisado de que ela não era justa, fui ler o documento base para os trabalhos da Assembleia Sinodal e constatei que o alerta tinha razão de ser. Depois de 43 páginas é claramente ligeiro considerar este Sínodo inútil, por os temas “picantes” não estarem convocados no debate sinodal. Arriscaria, aliás, a dizer que, se metade do que o documento preparatório propõem for aprovado, a Igreja mudará mais estruturalmente do que havendo uma rampa permissível a todas as questões polémicas. Mas vamos por partes.
Desde sempre existiram tensões entre as opções a tomar na vida da Igreja. Recentemente, houve quem acusasse o Papa de heresia, ao mesmo tempo que Francisco era acusado de não ir suficientemente longe. Para lá das barricadas, há a sensação de que as respostas da Igreja são insuficientes. O atual Sínodo insere-se neste contexto. Aberto em 2021, ele corresponde ao mais longo período de reflexão dentro da Igreja Católica desde o II Concílio do Vaticano. O objetivo: procurar um estilo “menos burocrático e mais relacional”. Mas percebeu-se que o principal problema da Igreja não é as respostas que dá, mas o método e a estrutura através da qual essas respostas são dadas. Respostas essas reflexo de uma Igreja a agir mais de cima para baixo do que como Povo de Deus.
Muitas vezes as respostas e as decisões da Igreja soam a arbitrárias, a pouco discernidas e escrutinadas, a pertencentes a uma elite. Revogar, por exemplo, a obrigatoriedade do celibato do clero, sem alterar as condições de base........
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