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Colorir a ditadura. Branquear Abril

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26.04.2024

Quem assistiu às movimentações militares do 25 de Abril no centro de Lisboa, escreveu algures que “os tanques tinham um ar gigantesco nas ruas estreitas”. Essa é, possivelmente, uma das definições mais eloquentes de democracia: a possibilidade de fazer passar, por entre ruas estreitas, um mundo gigantesco.

Passados 50 anos, se para alguns as ruas foram demasiado estreitas, para outros os tanques terão sido excessivamente largos. Quer para uns, quer para outros, Portugal parece não ter melhorado o suficiente. “Falta cumprir Abril”, diz-se. Mas não podemos ter senão espanto ao ouvir esta afirmação. Podemos imaginar um país melhor, mas Portugal é hoje um país descolonizado, democrático e mais desenvolvido. E dizer que Abril ficou aquém das expectativas, denuncia mais o irrealismo destas, do que o sucesso da “madrugada que eu esperava”. A consequência tem sido, por isso, colorir ou branquear, quer a ditadura, quer a revolução, conforme importa agradar à sensibilidade e ao gosto. No entanto, até mesmo aqueles que dizem que vivemos um tempo de censura mais gravosa do que aquela instituída pelo Estado Novo, decerto não terão dificuldade em reconhecer que, ao menos hoje, lhes é possível escrever e denunciar isso que consideram injusto, sem qualquer vigilância ou coação.

Ainda assim, limitar a explicação do significado do 25 de Abril ao que se podia ou não podia........

© Observador


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