A chama que não se esgota, mas não se faz
Esta semana, no lugar da crónica habitual, em exclusivo, pré-publica-se neste espaço o capítulo com que tive a honra de contribuir para a obra 50 vezes 25 de Novembro. Coordenado por Jerónimo Fernandes, com o prefácio de Pedro Passos Coelho e o contributo de 31 autores, 50 vezes 25 de Novembro sai este mês com o intuito de assinalar o cinquentenário do 25 de Novembro.
Além do capítulo que escrevi e aqui se reproduz, o livro conta ainda com os contributos de Alberto Braz, António Tânger Corrêa, António Tavares, Diogo Pacheco de Amorim, Fernando Pedroso, Gonçalo de Melo Bandeira, Isabel Ponce de Leão, Jaime Nogueira Pinto, Jerónimo Fernandes, Joana Amaral Dias, João Maurício Brás, João Soeiro da Costa, Joaquim Jorge, Jóni Cardoso Coelho, José António do Carmo, José de Carvalho, José Luís Andrade, José Luís Tavares, José Meireles Graça, Lourenço Ribeiro, Miguel Côrte-Real, Miguel Nunes da Silva, Nuno Simões de Melo, Pedro Cassiano Neves, Ricardo Dias de Sousa, Riccardo Marchi, Rodrigo Costa, Rui de Azevedo Teixeira, Rui Moreira e Vasco Rato.
A apresentação será no próprio dia 25 de Novembro, pelas 18 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal de Marvila, em Lisboa, estará a cargo de Rui Ramos e contará com a presença de diversos autores. Fica o convite.
“A chama que não se esgota, mas não se faz
Historicamente, os eventos passados em 25 de Novembro de 1975, data cujo cinquentenário justificam estas linhas, serão os mais importantes e decisivos em Portugal desde 28 de Maio de 1926. Assim visto, e considerando que vivemos em 2025, um espaço temporal de 99 anos, convenhamos, não será coisa pouca. De facto, a haver alguma dúvida sobre a importância da presente efeméride, essa nunca seria por que razão se deve comemorar o 25 de Novembro de 75, mas como poderia sequer ser possível não o fazer. As razões para tal relevância, no fundo, são simples e evidentes: Portugal viveu desde 1926, primeiro, uma ditadura militar, depois, após 33, um regime autoritário que ao longo de muitas décadas limitou, censurou, cortou os direitos e liberdades políticas, económicas e sociais individuais e colectivas dos seus cidadãos. Esse regime político colapsou em 25 de Abril de 74, momento em que se instaurou um processo de transição, inicialmente relativamente pacífico, é certo, mas, mais tarde, traduzido num conflito, em muitos casos aberto, entre uma visão colectivista, comunista, estalinista da sociedade e uma contra-parte que imaginava para Portugal uma sociedade democrática, liberal, do “tipo Ocidental”. É em 25 de Novembro de 75 que esta última visão — a democrática, liberal, Ocidental, repito — vence e, decorrendo dos eventos desse dia, se implanta como o farol ideológico do sistema político que sucederia ao Estado Novo. Deste modo, não podem haver muitas dúvidas sobre aquilo que se celebra, nem quando: a 25 de Abril comemora-se o fim da ditadura; a 25 de Novembro celebra-se a vitória da democracia e das liberdades individuais que, a seu tempo, legitimados nas urnas, fundariam o actual regime político.
Que se tenha transformado a interpretação histórica destas duas datas numa questiúncula política entre bandeirantes da extrema-esquerda, que rejeitam o 25 de Novembro, e todos os outros que, de esquerda ou de direita, com bom-senso, fazem notar a evidência da sua relevância histórica, apenas revela uma tendência para a qual os movimentos políticos mais agressivos e autoritários parecem gravitar: a necessidade de controlar o sentido e o significado histórico por forma a, por um lado, purificar em banho de virtude auto-congrulatória a sua própria posição e, pelo outro, vilipendiar, conspurcar e condenar a posição dos seus adversários num imaginado elevadíssimo pelourinho de moral histórica. Ora, como bem se sabe, a esquerda contemporânea em geral, isto porque colonizada cultural e socialmente pelo activismo acéfalo da extrema-esquerda, não é fã da liberdade individual, seja esta económica, seja política. Para a esquerda, no fundo a velha extrema-esquerda apenas que ora mascarada com batôn feminista e bandeirinhas arco-íris, a boa liberdade é aquela onde somos livres de fazer como essa esquerda imagina que todos devemos querer fazer. Ou seja, a sociedade boa, para eles, é aquela que pensa, age e sonha como eles, em uníssono, portanto, desprezando-se deste modo infantil todos os outros como maus, incluindo aqueles malandros sacripantas que entre 74 e 75 ousaram pensar, imaginar e pugnar para que em Portugal se pudesse vir a viver de forma diferente daquela imposta do outro lado da Cortina de Ferro.
Ora, assim sendo, não gostando a esquerda da liberdade plena, plural, onde visões opostas debatem, discutem, negoceiam, entre pares, como agentes políticos e morais de igual dignidade, o futuro de uma comunidade política, não pode, de facto, estranhar a qualquer um com a mente mais desperta o profundo desprezo que essa mesma esquerda devota ao 25 de Novembro — isto porque, tal como se explicava ali em cima, é precisamente essa a data que celebra o triunfo da liberdade e da pluralidade democráticas. Desprezam o 25 de Novembro, portanto, não tanto porque esta seja a data que lhes recorda a derrota da visão que propunham para Portugal, apesar de também o ser, imagina-se, mas pior, muito pior, desprezam e vilipendiam o 25 de Novembro porque é esta a data que lhes destapa a careca totalitária, colectivista, violenta, anti-democrática, anti-liberal, anti-parlamentar que escondem debaixo das perucas com que, hipocritamente, louvam o regime democrático — um regime que nunca quiseram, e no qual apenas participam porque os Portugueses, primeiro pela força, a 25 de Novembro de 75, depois pelo poder do voto, lhes negaram as esperanças de nos guiarem a todos para o inferno comunista então estabelecido para além do muro de Berlim.
É esta a fragilidade histórica da esquerda portuguesa. É a sua génese anti- democrática, anti-liberal, que lhes importa disfarçar, daí que se resolvam a execrar o triunfo do ideário liberal e democrático Ocidental em Portugal. Do mesmo modo, e seguindo a cartilha da desinformação, acusam........





















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