Estou bem comigo!
Uma conhecida marca que comercializa, entre outros, produtos cosméticos e medicamentos não sujeitos a receita médica iniciou, no mês em que se comemora o Dia da Mulher, uma campanha publicitária intitulada “Não fica bem”.
A referida campanha segue a linha do empoderamento feminino, instando as mulheres, de todas as idades, a sentirem-se bem com as suas opções e a afirmarem-se contra aceções da sociedade, passíveis de condicionar determinados comportamentos, quando adotados pelas mulheres.
O anúncio resume-se a várias afirmações sobre as imagens que lhes correspondem, em que a frase “não fica bem” precede um conjunto de práticas ou condições associadas às mulheres para, depois, rasurar a palavra “não”, procurando enfatizar o repúdio por esse tipo de ideias e exortar as mulheres a não se deixarem condicionar ou influenciar e a ficarem bem consigo.
No que me diz respeito, a campanha funcionou em pleno e, devidamente empoderada, vejo-me tomada por incontrolável desejo de manifestar a minha opinião, fazer ouvir a minha voz, sem recato ou pudor, sem receio da polémica e da controvérsia, movida apenas pelo objetivo maior, que o anúncio promove, de “ficar bem comigo”.
PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR
E para ficar bem comigo devo dizer que não gostei particularmente do anúncio e que preferia que a empresa, para promover a venda de seus produtos, escolhesse outra forma de o fazer, que não passasse por transmitir a imagem de uma sociedade portuguesa atrasada, onde a opção de uma mulher por não ter filhos, ou ter três filhos, ou viajar sozinha, ou se maquilhar, ou casar de novo, ou mesmo pintar o cabelo de cor de rosa ou azul é tema ou sequer uma questão.
É, ainda, possível ouvir no anúncio que “não fica bem” envelhecer, sentir calores, ter uma nova relação, engravidar…
Tudo isso narrado e apresentado num leve tom de revolta, que, julgo eu, faria mais sentido noutras paragens por esse mundo afora, onde, de facto, muito daquilo que o anúncio assinala é tabu ou merecedor de crítica, onde o papel das mulheres é menorizado, onde estas são oprimidas, condicionadas nas suas escolhas pelos ditames de sociedades arcaicas e intolerantes, sem uma verdadeira palavra sobre o seu futuro e a sua própria felicidade.
Embora alinhada com o objetivo da campanha e confiante nas........
© Observador
visit website