De Salazar a Ventura e mais além
Quase meio século de vigência de um poder pessoal, mais aceite do que imposto, marcou indelevelmente a arquitectura mental deste pequeno País à beira-mar plantado. Somos, sim, uma Nação orgulhosa de lustrosos mil anos de História, mas que há muito tempo não dispõe de um grande património material. Uma Nação que, tendo sofrido nos finais do Séc. XIX uma série de duros choques – alguns exógenos, outros feitos com a prata da casa – procurou desesperadamente uma porta de salvação. Salazar, que personalizou essa resposta, condiciona ainda hoje o nosso comportamento e os nossos fantasmas. Quis o destino que, cem anos depois de 1926, Portugal estivesse, uma vez mais, perplexo pela crise em que está mergulhado, crise essa induzida por eventos internacionais, mas também criada por debilidades próprias. Portugal está de novo em busca, e desesperadamente, de uma solução milagrosa. E o que vemos muitas vezes, é os políticos a invocar as soluções do passado para fazer frente aos desafios de hoje. Mas fará tal sentido? Para responder a esta pergunta, é aconselhável procurar perceber o que de facto se passava há um século e quais são as lições da História que nos podem ser úteis.
Nos finais do Séc. XIX, Portugal vivia uma profunda crise de identidade, fruto da sua reduzida força económica e política, numa Europa eufórica com os frutos da revolução industrial e da exploração colonial. Apesar do seu passado glorioso, Portugal via a partilha da ocupação colonial ser acordada entre a Inglaterra, a França e a então recentemente unificada Alemanha. Ferido o orgulho nacional dos descobridores dos novos mundos, ignorados na sua insignificância pelas grandes potências do momento, não houve, na liderança política Portuguesa da altura, a capacidade, ou a vontade, de explicar ao povo os limites de um Portugal, sem indústria e sem finanças. Irresponsavelmente, os políticos lançaram-se no desagravo nacional, promovendo desígnios para os quais não existia sustentação. O Mapa Cor-de-rosa de 1890, fruto da nossa imaginação e sonho, foi construído quando já se sabia qual a ocupação que a Inglaterra destinara para a zona de África entre Angola e Moçambique. Os inflamados comícios políticos e os heróicos artigos dos jornais em Lisboa não foram força suficiente para fazer recuar o maior império económico e militar do mundo quanto à prossecução do Ultimato entretanto lançado. O Mapa Cor-de-rosa foi, para Portugal, uma forma romântica de suicídio. Apenas dois anos volvidos, numa crise financeira internacional despoletada pela falência de um importante banco inglês, era declarada a bancarrota oficial do Estado. Com o sistema financeiro mundial em crise, fomos incapazes de assegurar o pagamento da volumosa dívida externa acumulada durante todo o Séc. XIX, que incluía ainda os empréstimos contraídos na guerra civil entre Miguelistas e Liberais. Sem Exército, sem Armada e com os credores com o pé na porta, Portugal insiste em saltar para o precipício e procurar, na substituição da Monarquia por uma República, a solução milagrosa para todos os males do corpo e do espírito. Na realidade, com a mudança de regime e com os cofres vazios, o que aconteceu foi a crispação ideológica e religiosa e a falta de capacidade para governar, que redundou na total desagregação do aparelho político e administrativo. Os Governos da República mudavam como as Estações do Ano e o dinheiro faltava para tudo, excepto para a especulação financeira e para a corrupção. Um país perdido, zangado entre si e sem qualquer apoio exterior, procurava, em 1926, uma saída que resultasse na sua salvação.
A solução surgiu pela via da sublevação militar, que, depois de alguns percalços de caminho, entroniza com totais poderes um jovem intelectual católico conservador, à volta do qual se juntaram forças e vontades diversas, unidas para fazer esquecer........





















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