“Neste mundo turbulento, o relacionamento1 pacífico tem a sua origem no respeito2 mútuo, e a segurança3 duradoura é construída com base na equidade4 e na justiça5.” Palavras sábias, porque ocas, proferidas pelo supremo líder, Xi Jinping, numa conferência ministerial pela Paz6 em Gaza realizada semana passada.

A China comunista é totalmente a favor da Paz, da concórdia e do diálogo no Médio Oriente. E na Ucrânia! E onde quer que no mundo haja conflitos que não afetem diretamente os seus interesses & ambições. Mas quando tem alguma disputa territorial, seja com aliados como Vietnam, o Laos, a exURSS, ou com países amigos como as Filipinas, a India, ou o Japão, ou ainda quando enfrenta algum problema7 ou instabilidade numa das suas colónias, no Xīzàng8 ou em Xinjiang, a sua reação primária & instintiva é tirada automática & diretamente da Portuguesa, com enfase especial naquele verso em que, com mais força & entusiasmo, cantamos: “Às armas, …,” etc. O que é mais uma evidência dos fortes laços culturais que irmanam as nossas duas nações.

Esta postura pacificamente bélica do estado chinês é especialmente evidente nas suas reações ao se passa em Taiwan, uma républica, não só sua vizinha, mas culturalmente sua meia-irmã. Sempre que o povo vai, algo desordeiramente, às urnas na Formosa nação, é certo e sabido os sino-comunistas realizar manobras militares de grande envergadura nos mares à sua volta. Cerimonial que não é replicado por Taiwan quando as seções locais e profissionais do partido comunista chinês, ordeira & regularmente nomeiam os seus pré-determinados representantes para o denominado Congresso Nacional do Povo, o mais alto & irrelevante órgão político chinês.

Essas exibições de poderio militar, por enquanto não-interventivo, devem-se à China comunista não reconhecer a soberania do povo de Taiwan em escolher, por voto9 universal & secreto, os seus representantes políticos, o seu presidente e parlamento. O que é equitativo e justo, na medida que uma soberania equivalente também não é reconhecida ao povo chinês. Na perspetiva sínica, estes representantes deveriam ser nomeados pelo partido comunista chinês, como legitima, natural & realmente10 acontece na própria China, na Edp, em Hong Kong e na Organização Mundial da Saúde, entre outros.

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Existe, no entanto, e apesar do pacifismo intrínseco ao partido comunista chinês, o risco de estes exercícios militares se tornarem, no calor do momento, por um erro cuidadosamente planeado, numa invasão de Taiwan. Conflito que, mesmo aqueles que recusam empolar a importância que a China de Xi tem na atual desordem internacional, acreditam que teria consequências muito mais disruptivas a nível global, isto é, em nossa casa, que as atuais guerras11 orquestradas pela Rússia e pelo Hamas contra nações suas vizinhas & culturalmente suas meias-irmãs12.

Pese embora a vantagem inerente à posição defensiva que a China comunista gozaria nesse embate & a desigualdade existente na dimensão dos exércitos dos dois países, a possibilidade muito real de o povo da Formosa ilha atacar o exército libertador nas ruas e nas montanhas, bem como a eventualidade dos Estados Unidos, e de outras nações que não seria diplomático aqui referir, apoiarem militarmente os intentos imperialistas de Taiwan constituem uma séria ameaça à paz global e renovável13. É, portanto, um risco contra o qual a boa prudência mauísta requer que a China se proteja. Não através “do respeito mútuo”. Nem sequer “com base na equidade e na justiça.” Mas, como aconselham os peritos, apertando bem o cinto de segurança quando se prevê que haja turbulência.

Neste caso, um beijo pode fazer o papel de cinto. Para poder plenamente abraçar a Paz que norteia a sua diplomacia, parece recomendável que o partido comunista chinês tente beijar a Democracia burguesa, mesmo que seja à la Rubiales, sem amor nem respeito. Como? O beijo mais óbvio seria concorrer às próximas eleições em Taiwan, através do estabelecimento de um partido comunista local que comungue do seu ideal de um dia libertar o povo de Taiwan das pesadas cangas da democracia, da liberdade14, da independência nacional e do capitalismo. Repare-se que ninguém, nem Biden, nem Macron, nem Yahya Sinwar, está a sugerir eleições com voto secreto e universal para o heroico povo chinês! Nada disso!

A sugestão, repete-se, é para que se constitua em Taiwan um partido verdadeiramente alinhado com as posições de Xi, e que por ele seja publicamente apoiado, que concorra às próximas eleições no país. Deste modo, os comunistas chineses estariam a proporcionar ao Formosino povo a possibilidade de escolher a Paz, prosperidade e justiça social que são uma realidade15 na China sob o governo de Xi Jinping, e também de poder optar por se integrar na grande nação chinesa, de que já havia sido, em tempos passados, e por um breve período, durante o reino de um muito mao imperador Manchu, sua colónia.

É verdade que o autodenominado Partido Comunista Taiwanês, fundado há três décadas atrás e liderado por um grupo de ricaços, latifundiários e capitalistas, tal como os atuais membros do politburo chinês, nunca teve grande sucesso nas urnas, nem popularidade entre as massas proletárias, o que levou à sua dissolução em 2020. Mas o facto é que o extinto partido sempre se identificou mais como social-democrata, algo afim ao nosso ps/d dalguns tempos atrás, do que como marxista-leninista-mauísta, como o nosso ps/d d’agora. Isto é, os formosinos nunca tiveram a oportunidade de optar pelo autêntico produto mauísta no seu supermercado eleitoral—uma evidente falha do mercado. No entanto, dada a popularidade do partido comunista chinês na China, em Davos e no Rato, seria de espantar que um partido representante das posições16 de Xi Jinping não conseguisse em eleições livres uma maioria absoluta no parlamento Taiwanês. Como é obvio, isto permitiria resolver pacífica e cordatamente todos os diferendos entre as duas nações vizinhas e poria fim ao aventureirismo imperialista Taiwanês: uma vez no poder em Taiwan, os comunistas poderiam abolir as eleições livres, com o consequente benefício da descontinuação da atual praxe de pacíficas manobras militares à volta da ilha. A abolição da democracia em Taiwan não implicaria, como é obvio, a supressão de todas as liberdades pessoais na nova província chinesa: os comunistas, não só os sínicos17, mas também os cínicos18, já há muito descobriram que muitas destas liberdades, incluindo o fazer dinheiro & o fazer amor — mas não a liberdade de educação, de imprensa ou de religião — são absolutamente irrelevantes para a manutenção do monopólio de um poder político despótico.

Põe-se assim a questão: porque não hão de os comunistas, os verdadeiros comunistas fiéis aos ideários do fantástico Mau, irem a votos em Taiwan? Não seria o melhor modo de permitir ao Formosino povo se autodeterminar & demonstrar o amor e admiração que tem por Xi e por todos os construtores do socialismo neste mundo? E não seria este um modo de enfrentar a turbulência atual com base no respeito mútuo, e um modo eficaz de construir uma segurança duradoura no Extremo Oriente com base na equidade, na justiça, na unidade e, quiçá, conseguir assim uma reunião pacífica dos dois países?

É provável que o povo de Taiwan resista ferozmente a uma pacífica incursão do exército dos comunistas chineses para o libertar, mas é certo que se renderá a uma vitória de Xi Jinping nas urnas. Está, portanto, na altura de Xi começar a beijar a democracia, não em casa, mas na sua vizinhança.

Us avtores não segvew as regras da graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein as du antygu. Escreuew covmv qverew & lhes apetece. #EncuantoNusDeixam e #EnquantoXicánãoCHEGA

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Para abraçar a Paz beijar a Democracia

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04.06.2024

“Neste mundo turbulento, o relacionamento1 pacífico tem a sua origem no respeito2 mútuo, e a segurança3 duradoura é construída com base na equidade4 e na justiça5.” Palavras sábias, porque ocas, proferidas pelo supremo líder, Xi Jinping, numa conferência ministerial pela Paz6 em Gaza realizada semana passada.

A China comunista é totalmente a favor da Paz, da concórdia e do diálogo no Médio Oriente. E na Ucrânia! E onde quer que no mundo haja conflitos que não afetem diretamente os seus interesses & ambições. Mas quando tem alguma disputa territorial, seja com aliados como Vietnam, o Laos, a exURSS, ou com países amigos como as Filipinas, a India, ou o Japão, ou ainda quando enfrenta algum problema7 ou instabilidade numa das suas colónias, no Xīzàng8 ou em Xinjiang, a sua reação primária & instintiva é tirada automática & diretamente da Portuguesa, com enfase especial naquele verso em que, com mais força & entusiasmo, cantamos: “Às armas, …,” etc. O que é mais uma evidência dos fortes laços culturais que irmanam as nossas duas nações.

Esta postura pacificamente bélica do estado chinês é especialmente evidente nas suas reações ao se passa em Taiwan, uma républica, não só sua vizinha, mas culturalmente sua meia-irmã. Sempre que o povo vai, algo desordeiramente, às urnas na Formosa nação, é certo e sabido os sino-comunistas realizar manobras militares de grande envergadura nos mares à sua volta. Cerimonial que não é replicado por Taiwan quando as seções locais e profissionais do partido comunista chinês, ordeira & regularmente nomeiam os seus pré-determinados representantes para o denominado Congresso Nacional do Povo, o mais alto & irrelevante órgão político chinês.

Essas exibições de poderio militar, por enquanto não-interventivo, devem-se à China comunista não reconhecer a soberania do povo de Taiwan em escolher, por voto9 universal & secreto, os seus representantes políticos, o seu presidente e........

© Observador


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