O congresso do CDS
Como a todos os últimos, fui ao Congresso do CDS e passei muito mais tempo cá fora do que lá dentro. Pela vida interna e pelas carreiras tenho um interesse menos do que moderado; é fatal como o destino que cada orador, nos três minutos de que dispõe, abunde nos chavões, repise ideias, e faça prova de vida; e o apelo de uma cigarrada e uma boa conversa é frequentemente irresistível.
Não o digo com nenhuma espécie de real ou afectada superioridade: para ser democrata não é preciso achar a democracia perfeita (pelo contrário: é uma abominação só tolerável porque qualquer alternativa é pior) e a paciência que escasseia para ouvir discursos não ofusca a certeza de que eles fazem parte, e são essenciais. O militante vence a prova de fogo da sua própria timidez, dá testemunho público da sua pertença e ventila as suas preferências de pessoas ou políticas. Um partido vivo tem de ter disso, e o CDS em tal quantidade que, a dada altura, o presidente do Congresso já implorava que alguns dos inscritos para falar (70, salvo erro!) se abstivessem, porque senão a coisa prolongava-se até para aí as 5 da manhã. Muitos nesta altura já chamavam a atenção para o óbvio, que até talvez a eles estivesse a surpreender: o partido dado como moribundo tinha afinal uma singular vitalidade.
A dado ponto, entre outras mensagens videogravadas, apareceu a de Paulo Portas, fortemente aplaudida. Portas nunca fez um mau discurso na vida, suponho porque, para além das suas qualidades naturais para o propósito, prepara cuidadosamente o que vai dizer. E disse o que convinha, com uma sábia dosagem de história, razões para a união e esperança no renascimento.
Dos antigos dirigentes ainda vivos, Ribeiro e Castro disse nada, e outro tanto fizeram Assunção Cristas e José Rodrigues dos Santos, que creio também não estiveram........
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