Deixem o algoritmo em paz. Aprendam antes a pensar
Por volta de 1440 um alemão chamado Johannes Gutenberg desenvolveu uma tecnologia que, mesmo não sendo original (já existia na China e na Coreia), proporcionou uma verdadeira revolução na Europa renascentista. Com a imprensa de caracteres móveis passou a ser possível fazer não apenas numerosas cópias de livros que antes só podiam ser copiados à mão, como de panfletos a que, passados uns tempos, haveríamos de chamar jornais.
Sem esta revolução tecnológica é inimaginável a existência de democracia à escala dos grandes espaços – porque é inimaginável que fosse possível reproduzir a essa escala a ágora ateniense, no fundo que fosse possível criar um “espaço público” onde uma cidadania informada pudesse tomar colectivamente as suas decisões. Sem essa inovação tecnológica também teria sido muito mais difícil imaginar as revoluções científicas dos séculos que se seguiriam, pois só com ela o saber deixou de estar enclausurado em raras e inacessíveis bibliotecas de livros manuscritos.
Dito isto – e muito mais se poderia dizer sobre as transformações que a invenção de Gutenberg potenciou – há que acrescentar o reverso da medalha: a democratização da circulação da informação também facilitaria a difusão do boato ou das campanhas maldosas. É assim que a Europa saída da Idade Média e a entrar no “luminoso” Renascimento assistiria a algo antes desconhecido: uma quase generalização da caça às bruxas, desta vez no sentido literal do termo, pois por todo o lado se multiplicaram acusações, julgamentos e execuções. Central nessa deriva foi a edição e imensa difusão de um livro-panfleto, Malleus maleficarum (Martelo das feiticeiras), escrito por dois frades dominicanos e que funcionou como rastilho e guia para milhares de perseguições.
Há hoje um razoável consenso que, não existindo a “prensa de caracteres móveis” inventada por Gutenberg, dificilmente teríamos assistido a um fenómeno com a dimensão dessa caça às bruxas da Europa renascentista – mas creio que esse efeito perverso não pesa o suficiente para preferirmos o mundo do tempo em que a informação só circulava entre os eleitos que tinham acesso às bibliotecas de manuscritos. Por outras palavras: quando a informação circula mais livremente e de forma menos controlada, como passou a suceder depois da invenção de imprensa, é possível detectar sempre efeitos........





















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