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De novo o suicídio do jornalismo, ou o caso da BBC

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25.11.2025

É sabido que, seja qual for o momento, existe sempre uma espécie de ortodoxia, no fundo um corpo de ideias que se assume que as pessoas de bom senso aceitarão sem questionar. Não é que seja proibido dizer o contrário, mas fica mal fazê-lo. Pior: quem quer que desafie a ortodoxia prevalente acaba silenciado com uma eficácia surpreendente.

Esta frase não é minha – é uma adaptação livre de uma passagem do prefácio que George Orwell escreveu para Animal Farm (A Quinta dos Animais na mais recente tradução portuguesa), um prefácio que não foi publicado na altura e só seria redescoberto em 1972. Neste texto ele critica a forma como tanto a imprensa popular britânica como a erudita não se afastavam da ortodoxia então dominante (o livro foi publicado em 1945, no final da II Guerra) que considerava de mau tom qualquer critica à União Soviética e aceitava como boas evidentes mentiras propagadas por Moscovo. É uma reflexão muito interessante sobre liberdade de imprensa e tem sido repescada por estes dias a propósito das polémicas que envolvem a BBC. Muito interessante e muito actual.

Tenho quase 50 anos de jornalismo (comecei em 1976) e trabalhei em redacções muito diferentes, com meios muito diferentes, e também usando diferentes plataformas. Vi o mundo do jornalismo mudar, e não apenas porque a tecnologia evoluiu – vi esse mundo mudar porque aquilo que era a natureza inicial da minha profissão se alterou, assim como se alterou o lugar que ela ocupa na sociedade e no funcionamento de democracia.

Quando eu comecei a trabalhar os jornalistas ainda eram os que divulgavam as notícias, os repórteres os que reportavam, e dar informação ainda era o nosso exclusivo, ou quase. Esse mundo acabou, e não acabou apenas por causa da Internet e das redes sociais – acabou porque a multiplicidade de fontes de informação dispensa muitas vezes a intermediação jornalística e acabou porque os próprios jornalistas começaram a interpretar o seu papel não sobretudo como mediadores, mas como “interpretadores”.

Neste quadro a realidade descrita por Orwell tornou-se ainda mais evidente, eu diria mesmo mais radical e dramática. Àquele que era o vicio original – há notícias a que se dá mais destaque do que a outras porque são as que “encaixam” na........

© Observador