As mentirinhas de que vai vivendo a grande mentira
Não devia surpreender ninguém o acidente quase fatal daquele jovem que decidiu subir a um comboio na Estação do Rossio, em Lisboa, e ia morrendo electrocutado. E não devia surpreender porque a invasão daquele interface ferroviário e a tentativa de perturbar a circulação dos comboios, apesar de não expressamente convocada, insere-se com a maior das naturalidades na lógica das manifestações radicais ditas pró-palestinianas que têm saído às ruas de toda a Europa. Primeiro, porque da retórica agressiva, violenta mesmo, dos manifestantes até acções destinadas a assumidamente perturbar a vida dos cidadãos comuns e a ordem pública vai apenas um pequeno passo. Depois, porque os órgãos de informação que esfarrapam as vestes contra aquilo que designam como “discurso de ódio da extrema-direita”, acolhem depois com benevolência, quando não mesmo com aplauso, a violência sem disfarces dos radicais de esquerda. Uma coisa vai a par com a outra e algo dá cor e corpo à orquestra: a repetição sistemática, ad nauseum, de todo o tipo de pequenas e menos pequenas mentiras, que depois desaguam na grande mentira que é a de apresentar como “rosto do humanismo” os radicais intolerantes e agressivos que enrolam à volta do pescoço um keffieh e logo acham que assim tudo lhes é permitido. Mesmo quase morrer electrocutado.
Para ser franco, o grau de delírio a que já se chegou torna difícil qualquer debate, mesmo o simples acto de dizer que é preciso conhecer melhor a realidade – e a História – do Médio Oriente antes de começar a tomar como verdades irrefutáveis, e base de todas as indignações, aquilo que não passa de uma multitude de enganos, mistificações, muitas vezes falsidades assumidas. Mesmo assim, e porque sou teimoso, sinto-me obrigado a tentar separar o trigo do joio, peneirando algumas daquelas frases que vamos ouvindo todos os dias e que, como já está a acontecer, partem de um grão de verdade para depois acabar numa qualquer forma de preconceito não apenas anti-Israel, mas cada vez mais antissemita.
Vamos lá então, falso axioma por falso axioma:
“Há um consenso geral sobre a solução dos dois Estados, só a extrema direita de Netanyahu é que não aceita”.
A parte de verdade é que há ministros de extrema-direita no governo de Netanyahu que sempre recusaram — e recusarão — a criação de um estado palestiniano, mas não só a posição do primeiro-ministro não é essa, como na verdade ele já teve várias posições ao longo da sua vida política, primeiro opondo-se a essa ideia, depois aceitando-a (em 2009), por fim recuando para uma posição equívoca após o 7 de Outubro, posição que abandonou ao aceitar o plano de paz proposto por Trump que, mesmo não incluindo um plano detalhado para a criação de um Estado palestiniano, acaba por ter implícito que esse será o resultado final do processo que agora se quer iniciar.
Mas, mais importante do que as posições conjunturais de Netanyahu, o que deveria contar é a posição histórica de Israel, que aceitou em 1947 a partição da Palestina em dois estados, solução na altura recusada pelos árabes, que tentaram afogar em sangue o novo Estado judaico e perderam. Depois disso, a aceitação de dois Estados foi a base dos acordos de Oslo de 1992, era a base do acordo de Camp David recusado por Arafat e era de novo a base da proposta israelita de 2008, proposta mais uma vez recusada pelos palestinianos.
Em contrapartida, só depois de 1978 e do acordo entre o Egipto e Israel é que começou a haver Estados árabes que reconheceram........





















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