A nossa sina é nascerem mais bebés em ambulâncias
“O Amadora/Sintra com 30 por cento menos dinheiro fazia o mesmo.” “Isto sucede porque os incentivos são diferentes. (…) Os gestores do Amadora/Sintra podem distribuir prémios de produtividade que atingem no máximo 50 por cento das pessoas. Não mais. E isto é um estímulo. Agora, se os prémios atingem 100 por cento das pessoas não há estímulo nenhum.” “O cidadão da rua não quer saber da ideologia. O cidadão da rua quer ter um hospital, quer ter um hospital bom e quer pagar o mínimo possível.”
António Correia de Campos, ministro da Saúde no governo de António Guterres, entrevista ao Público em Julho de 2001
Custa a acreditar que estas palavras foram ditas há 24 anos. Exactamente: 24 anos. Podiam ter sido hoje se em vez de Amadora-Sintra tivéssemos colocado Loures ou Braga e trocado o tempo verbal nalgumas frases. Mas é esta a nossa sina, o nosso destino: fazer bons diagnósticos, nunca conseguir aplicar as terapias.
Há 24 anos Correia de Campos não terá tido tempo: o governo de Guterres caiu passados poucos meses. A seguir veio Luís Filipe Pereira, mas os tempos dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes não foram tranquilos. Em 2005 regressou Correia de Campos, com Sócrates, e passados uns tempos as crianças começaram a nascer em ambulâncias – pelo menos era o que se dizia a toda a hora nos jornais e televisões – porque o ministro estava a fechar maternidades, e a fechá-las muito bem. Acabou substituído, deixou de haver crianças a nascer em ambulâncias e a nova ministra, Ana Jorge, apressou-se a acabar com a PPP do Amadora-Sintra. A tranquilidade regressou ao SNS, pelo menos à superfície – ou até o dinheiro acabar, o que não demorou a acontecer, como bem sabemos.
Porque é que isto aconteceu? Porque há muita gente sentada à mesa do orçamento da saúde e porque a cultura dominante no nosso país é que “a saúde não tem preço”. A conjugação desses dois factores está à vista: gastamos cada vez mais com a saúde, gastamos sobretudo cada vez mais com o SNS, e queixamo-nos também cada vez mais.
Aqui há uns dias, neste Contra-corrente (a partir do minuto 58:30), um outro antigo ministro da Saúde, também ele socialista, Adalberto Campos Fernandes, lembrou que já anda há vários anos a defender a ideia de que, no SNS, “o bar está aberto” porque cristalizaram políticas e orientações “que são um ode à ineficiência”. O resultado tem sido um........





















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