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A “banalidade do mal”

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09.03.2024

A Literary Review de Fevereiro de 2024 confirma a actualidade de Hannah Arendt, dando notícia de mais um livro sobre a pensadora política: We Are Free To Change The World: Hannah Arendt’s Lessons in Love and Disobedience, de Lindsey Stonebridge, professora de Literatura, Humanidades e Direitos Humanos na Universidade de Londres. A recensão de Stuart Jeffries, intitulada “Anatomist of Evil”, diz que Stonebridge acrescenta novidade à já longa história de Arendt e da “banalidade do Mal”.

Banal e banalidade não são coisas que se associem ao Mal – ao Mal absoluto, ao Mal com maiúscula, obra do Príncipe das Trevas, do Inimigo de Deus e do Homem – ou mesmo ao mal político. Os monstros que, no século XX, orquestraram ou executaram as grandes hecatombes do comunismo e do hitlerismo, por exemplo, nada teriam de banal.

Por isso, quando Eichmann em Jerusalém – A banalidade do mal saiu em 1963, o choque perante a proposição de Hannah Arendt sobre um dos principais executores da “solução final” hitleriana foi geral. Tanto para os que, com Rousseau e outros optimistas, consideravam o Homem um ser “naturalmente bom”, como até para os tributários do pessimismo antropológico que, com a Bíblia, Maquiavel, Hobbes, De Maistre, consideravam o mal uma coisa inerente ao Homem:

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“Seria reconfortante acreditar que Eichmann era um monstro”, escrevia Arendt, mas, a verdade é que ele, e outros como ele, eram “terrivelmente normais”. O totalitarismo burocratizava e banalizava o mal, anestesiava as consciências, suspendia o julgamento moral, ético, pessoal, manipulava palavras e conceitos, instituindo como bem supremo a obediência ao chefe ou ao partido, detentores e administradores do ideal.

Em Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt fazia o relato ensaístico do julgamento de um dos carrascos do “povo escolhido”, que começara em Abril de 1961 na capital histórica de Israel.

Tal como outros altos funcionários do regime nazi, Eichmann tinha escapado para a Argentina peronista, onde encontrara acolhimento, e onde um comando israelita o descobrira e o raptara em Maio de 1960. Israel usava o julgamento para lembrar ao mundo a perseguição que tinham sofrido os judeus europeus nos países ocupados pela Alemanha nazi.

Hannah (Johannah) Arendt era uma........

© Observador


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