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“Obviamente, não me demito”

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12.11.2025

Há em Portugal um modo peculiar de governar: resistir até não poder mais, como se a mera persistência fosse sinal de virtude. Ana Paula Martins é o exemplo perfeito dessa velha escola, na linha direta de governantes que confundiram estoicismo com inércia e que acreditaram que permanecer no cargo, enquanto o edifício desabava em câmara lenta, era uma forma de serviço público, como se observar a decomposição fosse uma espécie de dever e garante moral.

A ministra permanece firme no cargo, mesmo quando a sucessão de incidentes no setor da saúde pareceria, noutros tempos, exigir um gesto de responsabilidade política. Acidentes de ambulância, o record europeu de partos na via pública, urgências fechadas em catadupa e sobretudo com uma aleatoriedade que fere a racionalidade e desorienta quem delas necessita, atrasos no INEM, linhas de apoio em rutura, administrações hospitalares descoordenadas, nomeações e demissões a uma velocidade estratosférica para a Direção Executiva, o INEM e os Conselhos de Administração das famigeradas ULS, mas nem assim a Senhora Ministra consegue que a informem a tempo e com precisão, antes de fornecer informações incorretas, pasme-se, no Parlamento.

O SNS está formal e publicamente à deriva, não que este facto seja a culpa da presente titular da saúde, mas de todos aqueles que nas últimas décadas, e pendularmente oscilando entre o PS e o PSD, tiveram responsabilidades diretas e indiretas neste setor. Este retrato diário e cruel de descontrolo institucional vai muito para além de uma mera “fase difícil” e assim continuará, sejam quais forem as leis de bases que aí venham, pois chegámos a um ponto de não retorno em que o SNS, tal como está, já não tem conserto. Já não se reforma, reconstrói-se em bases (e não em lei de bases) adaptadas aos novos tempos e aos ventos da mudança, que traduzam uma maior responsabilidade individual na sua saúde, uma partilha entre o privado e o público, por muito que isto desagrade a uma esquerda política, mediática e cultural que com a sua visão dogmática e a sua demagogia intrínseca foi a grande força que empurrou o SNS para o abismo.

Mas deixando este assunto para outra análise, que se quer profunda e........

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