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Grandes Esperanças (1ª Parte)

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07.02.2024

Roubei o título às Great Expectations do Dickens, provavelmente mais bem traduzido como Grandes Expetativas. Parece-me certo afirmar que uma grande parte do eleitorado português não olhará para as eleições legislativas de 10 de março de 2024 com esperanças ou expetativas. Se as tiver, não serão “Grandes”.

Mas vamos ao diagnóstico.

Portugal não está bem. Conhecemos as ameaças internacionais que pairam. Juros ainda altos, guerras em curso, instabilidade política noutros Países. De bom, diz-se que a inflação vai normalizar. Temos os problemas internos identificados. Não há como escondê-los. Com tanto suspeito, arguido e acusado, os eleitores desconfiam dos políticos. Temos quadros que emigram, desemprego a dar sinais de subir, quando, paradoxalmente, há falta de mão de obra. Não temos uma política de imigração coerente e consequente. Há grande carga fiscal que asfixia os que pagam impostos, demasiados pobres que não ganham o suficiente para contribuir, crescimento económico débil e muito dependente do turismo, pouca indústria transformadora e geradora de valor, competitividade apoiada em salários baixos, contestação nos serviços públicos. A justiça é lenta, muito mediática, aqui e acolá com a credibilidade em risco. Há um quadro penal desajustado e as prisões estão ao nível do terceiro mundo. Forças de segurança em protesto, com material de trabalho escasso e mal mantido. Militares a tenderem para o residual e com equipamento a desfazer-se e insuficiente. Escolas sem professores e, ainda pior, com falta de alunos, fruto da diminuição na natalidade. Não há casas para a maioria dos Portugueses que delas precisam. Os jovens ficam nas casas dos Pais, quem os tem. Os sem abrigo aumentam, nacionais e estrangeiros. Vai ser preciso muito dinheiro, esforço, imaginação, cooperação, para que os problemas entrem no caminho da solução. Iremos precisar de entendimentos políticos e não se anteveem facilidades na sua concretização. E, supondo os investimentos públicos e privados que terão de ser feitos, precisaremos de matemática complexa para, num campo em que há mais adivinhação do que dados concretos, casar a redução dos impostos com a previsão de que sobrará dinheiro e vontades para o meter onde seja necessário. No caso da saúde, é ainda mais complicado.

Sabemos que a prestação de cuidados pelo Estado tem falta de recursos humanos, as instalações estão generalizadamente desadequadas para o século XXI, a manutenção do que há é deplorável, faltam equipamentos, há má distribuição e planificação deficiente de serviços, não nos apercebemos de uma estratégia nacional coerente, assiste-se ao aumento significativo e crescente dos tempos de espera por cuidados, falta a articulação eficaz entre os níveis de prestação de cuidados e no contínuo entre saúde e segurança social. São estas as principais dificuldades.

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Mas está tudo mal? Não.

Olhando para indicadores de que não temos razão para desconfiar, já que embora fornecidos por Portugal são usados internacionalmente para efeitos de comparação, há áreas em que o desempenho nacional e os resultados são muito satisfatórios. Já lá vamos, mas o 1º desafio que elenco é o de ser capaz de fazer melhor sem estragar o que já existe. Olhemos para os desafios.

Os principais desafios para a sustentabilidade do serviço e do sistema nacional de saúde, no caso português, relacionam-se, em 1º lugar, com os elevados preços........

© Observador


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