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A infância roubada

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15.11.2025

As falsas memórias são uma das manifestações mais devastadoras da alienação parental. Elas resultam de um processo de manipulação psicológica em que a criança ou adolescente é levada a acreditar em factos que nunca ocorreram, distorcendo a sua perceção da realidade e, sobretudo, fragilizando o vínculo com o pai ou a mãe alienador.

O caso de Madalena, uma jovem que viveu durante anos sob o efeito destas falsas memórias, demonstra de forma particularmente dolorosa como o discurso de um pai/mãe alienador pode reinventar toda uma história familiar, apagando o amor, a presença e o cuidado do outro pai/mãe.

Estas falsas memórias assentam em situações em que o pai ou a mãe alienador induz a criança a acreditar que determinados acontecimentos ocorreram, quando, na realidade, nunca existiram. São narrativas estruturadas através da insistência, da repetição e de uma autoridade emocional que as transforma em “verdades” profundamente sentidas pela criança.

Nos casos de crianças mais pequenas, este processo torna-se ainda mais eficaz por causa da sua vulnerabilidade, da sua confiança total nos adultos e da natural ausência de recordações concretas que as tornam facilmente influenciáveis. O pai ou a mãe alienador aproveita essa fragilidade para preencher o vazio das memórias com histórias falsas, assegurando-se de que a criança acredita que “aquilo realmente é real”.

Na infância, existem inúmeras experiências de que não nos lembramos e essa ausência de memória permite ao pai ou à mãe alienador inventar acontecimentos, reescrevendo aquilo que nunca ocorreu. A repetição transforma o que a criança ouve, numa convicção interna.

A vulnerabilidade infantil torna-se assim terreno fértil para a manipulação, pois a falta de recordações objetivas e o poder simbólico do discurso parental permitem ao adulto moldar a interpretação da criança sobre o passado, atribuindo culpas, distorcendo comportamentos e reconfigurando afetos.

Com o tempo, essas narrativas impõem-se como verdades emocionais, condicionando o pensamento, os sentimentos e o comportamento das crianças e adolescentes alienados. O que começou como uma história inventada transforma-se numa convicção profunda, e é precisamente nesse ponto que a alienação parental atinge a sua forma mais cruel, quando a mentira passa a ocupar o espaço da memória, e a criança acredita genuinamente que viveu algo que nunca aconteceu.

Mesmo quando, mais tarde, as crianças ou adolescentes tentam recordar as vivências........

© Observador