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Sobre a violência familiar

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12.05.2024

Há uma diferença grande entre violência e agressividade. Ambas são movidas pela raiva, num primeiro momento. Uma e outra tendem a ser, aparentemente, impulsivas. E as duas são formas de “expulsar” de dentro para fora de nós — sobre outra pessoa, de preferência — uma amálgama de sentimentos maus como se, com esse vómito azedo, agressividade e violência tivessem uma função catártica. E ajudassem a limpar, por dentro, aquilo que nos dói ou nos magoa.

Há, no entanto, algumas diferenças fundamentais entre violência e agressividade. Desde logo, a gravidade daquilo que se manifesta. A violência expressa uma destrutividade corrosiva. Sem acesso a experiências de culpa ou a gestos de reparação. Acompanhada de uma veleidade de supremacia de quem violenta sobre quem é violentado. E tanta, mas tanta raiva contida — acompanhada por repugnância, desprezo e rancor — que aquilo que parecia ser “só” raiva não deixa de se manifestar, sobretudo, como ódio. Desmedido!

A raiva, acaba por ser, ela também, a “correia de transmissão” desde o que se sente até à agressividade que se manifesta. Gera um movimento, irreflectido, de fúria. Diz-se aquilo que se sabe que magoa, num ímpeto, e de rompante. Mas, de seguida, leva à consciência da forma como trouxemos dor a quem prezamos ou a quem amamos. Por isso, a agressividade ajuda-nos a perceber que um impulso nos orienta, muitas vezes, para descobrir a bondade.

É claro que quer a agressividade como a violência, depois de manifestadas em jacto, desencadeiam uma consciência daquilo que se fez. Que vem acompanhada de vergonha. Só que enquanto a agressividade apela, depois de um impulso, à procura da desculpa, à proximidade e à transformação, na violência a vergonha mascara-se de arrogância. E é associada a um sentimento de euforia e de triunfo. E à repetição do gesto de violência como forma de imputar a quem é violentado a culpa pelos actos compulsivos com que a violenta.

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A agressividade........

© Observador


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