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O silêncio é a terra de Deus

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03.11.2024

Somos todos feitos de pessoas. De inúmeras pessoas! Que, com graus de importância muito diferentes, se juntaram dentro de nós, em momentos que não coincidiram uns com os outros. E que, também por isso, parecem ter (algumas delas) pouco a ver umas com as outras. Uma trazem-nos zumbidos aos ouvidos. Outras, elevam-nos, vida acima, até que se chegue ao silêncio. Estas, são a coluna vertebral, o coração e os pulmões de tudo o que se passa em nós. As células que protegem de tudo o que magoa. As outras, vagueiam como intrusos que nos são familiares. E que, ao contrário daquelas que nos dão vida, se entrincheiraram, se for preciso, num episódio pequenino — colado à memória, de forma irritante — e moem, incomodam, corroem e estragam.

Mas elas, todas juntas, somos nós. O que faz de cada singularidade humana uma multidão de horizontes a perder de vista. Que concorrem, todos eles, para um mesmo olhar.

Todas essas pessoas se articulam, umas com as contradições das outras, a ponto de contribuírem para sermos como somos. A nossa identidade (ou a personalidade, como preferirem) é o resulto do produto — sempre em aberto, sempre costurado com algumas turbulências e num bulício desmedido — das identificações que, no essencial ou em parte, fazemos em relação a todas estas pessoas.

Seja como for, de tantas e tantas pessoas que existem em nós, há poucas circunstâncias em que conversamos com elas. Mesmo dentro de nós. E são menos, ainda, aquelas que constroem connosco um silêncio que nos torne num só. E isso é esquisito. Segui-mo-las, vezes demais. Calados sobre tudo aquilo que nos constrói. Cada qual a pensar nos seus problemas. Como se cada um deles não fosse, também, construído por essas pessoas que vivem paredes-meias com o nosso coração. Mas, apesar do melhor do que somos capazes, quando se trata de........

© Observador


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