O discurso do ódio
Há emoções e há sentimentos. Uns e outros são conteúdos mentais, claro. As emoções são reflexas. E os sentimentos o resultado mais elaborado das emoções. E, depois, há sentimentos alinhados e articulados uns com os outros numa consensualidade que os afina. Como uma coluna vertebral que os liga e movimenta Assim é o amor.
Amor é conhecimento, entusiasmo e humildade. É beleza, pluralidade e ligação. O caminho para a verdade. Ódio é obscurantismo, mortificação e arrogância. É conspurcação, unicidade e clivagem. É estupidez. A caminho da loucura.
Mas, não, não é verdade que se passe muito facilmente do amor ao ódio. Mesmo que se sinta um ódio, súbito e prepotente, em consequência duma dor aguda e avassaladora. Sentir ódio e cultivar o ódio são coisas diferentes. Por isso mesmo, baseados na diferença entre sentir ódio e cultivá-lo, afirmar-se que somos todos maus é o populismo a que só quem é mau recorre para iludir e conspurcar a bondade e a liberdade de pensar de que os “bons” são capazes e eles não.
O ódio é estúpido! Resulta de ressentimentos que se transformaram em rancor. De raiva contida que marinou até se transformar em violência. De desamparos (cumulativos) que se converteram em inveja. E de experiências de humilhação que galgaram as margens e se transfiguraram numa voracidade insaciável e destrutiva. Ninguém chega ao ódio sendo bem amado. Ninguém se deixa carcomido por ele........
© Observador
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