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Enquanto houver acreditar

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02.09.2024

Tens de acreditar em ti! — É assim que tudo começa.

Depois dum jogo de futebol em que gritam, incentivam, vibram e se arrepiam — e a seguir a um banho prolongado e a um lanche, mesmo antes do almoço — quando, finalmente, os jovens jogadores de futebol saem do balneário, são muitas as mães que, incomodadas com a insegurança dos seus filhos em vários momentos do jogo, desabafam:

“Tens de acreditar em ti!”

Talvez a primeira questão que surja daqui possa ser: de onde nos chega a confiança que temos em nós? E, já agora, quando ela falta, de que forma se consegue resgatar para que passe a existir?

Comecemos, metodicamente, pelo princípio. “Tens de acreditar…”, mais do que um desafio motivacional, acaba por ser um desabafo entre o persuasivo e o imperativo. “Tens” significa “deves!”. Ou, de certa forma, “precisas”. Ou, mesmo, “é indispensável”. Ou “é incontornável” que sejas capaz. Ou, por fim, “não há como venceres sem acreditares”.

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É claro que fosse ele capaz disso e um atleta de sete ou de oito anos acreditaria sempre em si. Se não acredita, isso deve-se a uma fragilidade emocional (qualquer coisa que resulta duma espécie de “defeito de fabrico”), que se estende a todas as tarefas em que se envolve, ou circunscreve-se, por exemplo, ao futebol e nada mais? Por mais que pareça um distúrbio da sua personalidade, para a insegurança duma criança contribuem as exigências subliminares e as expectativas que os pais colocam sobre ela. Os sonhos e as confabulações que faz sobre si própria e que testa de cada vez que vai a jogo. A forma como se compara com os outros. O modo como quem a ensina a leva a acreditar que virá a ser capaz de conseguir. O modo como se avalia, considerando um conjunto de variáveis que são úteis à prossecução daquela tarefa, em particular. Etc. Isto é, a forma como um atleta não acredita nele próprio, num dado momento, não é uma questão mais ou menos misteriosa relativa à sua vida afectiva. Essa “baixa auto-estima” será a ponta de um icebergue onde se acumulam análises sobre análises que, de forma intuitiva, acaba por fazer em relação aos seus desempenhos, quando se trata de os mobilizar para uma dada tarefa onde é suposto que tenha um conjunto de resultados.

A forma como não acreditamos em nós não é uma fragilidade de personalidade mas uma competência cognitiva. (Não tanto uma incompetência…) Acaba por ser o produto final de todos os algoritmos de todas as experiências e de toda a sabedoria sobre tudo o que,........

© Observador


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