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Bullying entre irmãos

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22.04.2024

Não tem graça nenhuma ter um irmão. Passar-se de primeira a segunda figura. Ou de filho único a mais crescido. Deixar-se de ter a mãe, o pai e os avós só para nós e passar a ter de dividir o que era bom por mais alguém. Ter-se de agradecer as prendas que o mano, quando nasce, acaba por trazer enquanto “rouba” 70 ou 80% da atenção da mãe. Ver as pessoas passar, num corrupio, lá por casa e a pararem sempre nos comentários adocicados em relação ao novo bebé. Perder-se toda a legitimidade para ter manhas e manias porque nos recordam que temos outras responsabilidades e temos (sempre!) de dar o exemplo porque somos mais velhos. Sentir-se que a mãe parece estar sempre entre o terno e o comprometido em relação a nós, como se sentisse culpada por aquele pingente ter aparecido lá em casa. E ter-se de reclamar, de novo, pela chucha e pela fralda como se só dessa forma, semelhante a um apelo desengonçado e desesperado, se ganhasse direito a ter mais atenção uma outra vez. Depois, com o tempo, um irmão é uma mais-valia. E a cumplicidade que ele nos traz transcende quase tudo o que nos “tirou”.

Por isso mesmo, não é um drama ter-se vários filhos. Mas é difícil sermos iguais para todos eles, ao mesmo tempo. Porque a experiência nos torna diferentes. Porque eles estão longe de ser milimetricamente iguais. Porque a forma como cada um fala connosco é muito distinta. E porque nem sempre reconhecemos aquilo que eles esperam de nós, nem nos identificamos a todos os pormenores de um e do outro, com a mesma desenvoltura e segurança.

E, depois, à medida que eles crescem, um corre risco de ser, oficialmente, o frágil. O outro, o desembaraçado. Um brilha na escola. O outro é “só” um aluno “normal”. Um é discreto e metido consigo. O outro, aproxima-se dos desempenhos dum relações públicas. Um acaba por ser certinho. O outro, provoca e desafia. Um orgulha-nos ou envaidece-nos. O outro, preocupa ou desilude. Um parece assumir-se como a nossa melhor versão. O outro, copia........

© Observador


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