À margem da necessidade das palavras
“A impressão que tenho é que os meus pais não me conhecem. Não sabem quantos namorados eu tive. Nem das alturas em que, há anos, lhes falsifiquei a assinatura em testes com negativas. Ou quantas vezes saí de casa, à noite, depois de estarem a dormir. Eles não têm uma ideia muito clara acerca daquilo que eu faço. Mal conhecem alguns dos meus amigos. Nem sempre estão a par dos meus maiores sonhos. Ou participam, sequer, na construção dos meus projectos.”
Este não é o discurso de uma única pessoa. Mas faz-se de muitos fragmentos com desabafos de pessoas diversas. De trinta e de quarenta anos.
É claro que nem sempre os pais estão distraídos. É verdade que, entre o que observam e intuem e tudo o que dizem a um filho, sobretudo à medida que ele cresce, parece instalar-se um propósito de reserva que faz com que os pais falem pouco de tudo aquilo que pensam acerca dele. Do que gostam como do que admiram. Do que não apreciam como daquilo que os desgosta. Com o tempo, o medo pelos melindres que surjam parece ir sobressaindo sobre a verdade e a espontaneidade dos gestos que se têm. E pais e filhos, dantes indispensáveis uns para os outros, passam a coabitar num silêncio onde convivem muito pouco com tudo aquilo que têm “lá dentro”.
É claro, também, que não seria de supor que os pais, para........
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