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Mister e Miss Autarquia

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09.10.2025

Dizem-nos os clássicos que a política é a arte mais alta, porque ordena as restantes. É ela que traça o horizonte da cidade, que administra os recursos, que garante a justiça entre iguais e desiguais. Porém, se olharmos com serenidade para as eleições autárquicas do nosso tempo, dificilmente reconheceremos nelas a elevação da arte política. Aquilo a que assistimos aproxima-se mais de um concurso de simpatias, uma espécie de feira de popularidades, onde o critério de escolha não é o mérito da governação, mas a afeição pessoal, a proximidade familiar ou ainda a simples repulsa por este ou aquele rosto.

O voto, que deveria ser o gesto supremo de prudência cívica, converte-se em reflexo imediato: “É meu amigo, logo merece o meu apoio”; “Não gosto do outro, portanto voto neste.” Não se examina o programa, não se ponderam as medidas, não se julga a experiência: apenas se confirma a teia de relações sociais, como se a governação de uma freguesia ou autarquia fosse uma extensão das conversas de café ou das rivalidades de família.

Platão advertia, na República, contra o risco de entregar o leme da cidade àqueles que apenas agradam às massas, mas não possuem ciência nem........

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