menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

A Indústria do Adiamento 

13 1
20.11.2025

Há um comércio silencioso que prospera em Portugal: o comércio do adiamento. Vende se no retalho das promessas e no atacado das desculpas. A moeda corrente é a sondagem. O produto, aquilo que se engendra no salão do poder, é justamente o oposto do que o país precisa: medidas parciais, ritualizadas, pensadas mais para não chocar do que para transformar.

Viver neste país é assistir a um teatro em que os protagonistas trocam papéis com tanta frequência que já ninguém distingue a peça do ensaio. A política reduz-se a sobrevivência: “como durar” e não “como governar”. E assim, numa coreografia bem ensaiada de prudência, adia-se tudo o que exige coragem; cortes, escolhas, confrontos, a própria reforma do Estado.

No centro dessa coreografia está Marcelo Rebelo de Sousa, alguém que domina com mestria a arte de ser amado por multidões e temido por analistas. Excelente comunicador, maestro do aplauso público, Marcelo personifica a inconstância que melhor descreve a nossa hora: um Presidente que acerta diagnósticos e, logo a seguir, sorri com indulgência pelo atraso. Não o critico pelo traço humano; critico, isto sim, a função que cumpre sem pagar o preço da clareza.

Quando Marcelo fala de acordos de regime, acerta na urgência. Mas cuidado com as palavras: “acordo” não é sinónimo de reúna-um-pouco-de-tudo-para-agradar. Um acordo verdadeiro pressupõe génios da........

© Observador