Os EUA têm estratégia, e nós?
Em 2019 publiquei um ensaio sobre se Portugal tinha uma estratégia. No caso dos EUA é claro, na lei, que os presidentes norte-americanos têm a obrigação de ter uma. É assim, desde 1986, e da lei Goldwater-Nichols. Como o nome indica foi promovida por Barry Goldwater, um dos mais importantes e mais conservadores senadores republicanos, e por Bill Nichols, um influente congressista democrata. O objetivo foi criar previsibilidade na defesa, melhorar a eficácia do alto comando, em particular reforçando a dimensão conjunta – como se fez em Portugal na reforma de 2021 – bem como a tutela civil. Isto nos tempos em que era possível chegar a grandes consensos no Congresso, e em que o parlamento norte-americano funcionava como contrapeso do presidente. Desde aí, por regra – nem sempre respeitada, mas quase – cada quatro anos, cada novo presidente (ou reeleito), apresenta um documento que avalia riscos, ameaças e oportunidades, identifica adversários e aliados, aponta prioridades externas em fundação de uma determinada visão do papel dos EUA no Mundo.
O que vale um papel?
Tenho alguma experiência de trabalho neste tipo de documentos, nomeadamente no conceito estratégico de defesa nacional atualmente em vigor, que data de 2013 e está claramente datado. Mas também na chamada Bússola Estratégica da União Europeia, concluída em 2022, com envolvimento muito ativo por parte de Portugal durante a sua presidência rotativa da UE, promovendo vários documentos e discussões preparatórias, inclusive um conselho informal de Ministros da Defesa, em que ficou evidente as preocupações de uma série de Estados em não ser “demasiado” autónomos face aos EUA. Na verdade, só foi possível avançar com o documento com a garantia de que a Europa da defesa já não era mal vista pelos EUA – durante décadas Washington desencorajou uma verdadeira autonomia europeia no campo da defesa, em troca da sua garantia de segurança. Este tipo de documentos também foi objeto do meu trabalho académico, nomeadamente do meu doutoramento. Eu não faço parte, portanto, daqueles que acham que estes são papéis sem interesse ou relevância. Mas sei que há céticos.
É claro que Donald Trump não liga a papéis, veja-se os improvisos nos seus discursos. Que sentido faz, então, dar atenção a esta nova estratégia dos EUA publicada na passada semana? Faz muito sentido. A partir do século XIX começa a ser necessário justificar a parlamentos e votantes as grandes opções e grandes despesas da ação externa.........





















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