Geopolítica do 25 de Novembro
A historiografia portuguesa tende a isolar episódios decisivos do seu contexto internacional. Aljubarrota sem a Guerra dos 100 anos; Ceuta sem a paz separada entre Castela e Inglaterra (1388); 1580 sem Reforma e sem avanço Otomano; 1640 sem Flandres e sem Catalunha. Borges de Macedo é a exceção: em “História Diplomática Portuguesa – Constantes e Linhas de Força” tratou os nossos momentos decisivos como peças de um tabuleiro maior, onde geografia e correlações externas condicionam escolhas internas.
Também o 25 de abril de 1974 e o 25 de novembro de 1975 se inseriram num tabuleiro próprio, o da “Guerra Fria”. O ciclo abre cerca de 1947; o Muro cai em 1989; e o período encerra-se politicamente em 1991 com a dissolução da URSS.
A Guerra Fria é inseparável da descoberta da Bomba Atómica. O ensaio de George Orwell “You and the Atomic Bomb”, publicado logo em 19 de outubro de 1945, umas meras dez semanas após as explosões de Nagasaki e Hiroshima, cunhou, pela primeira vez, esse termo, retirando consequências da crescente complexidade do armamento para o cenário político global: “a Bomba Atómica” coloca os países que a possuem “numa base de igualdade militar. Incapazes de se conquistarem uns aos outros, é provável que continuem a governar o mundo entre eles” construindo “Estados simultaneamente inconquistáveis e em estado permanente de ‘guerra fria’ com os seus vizinhos”. A política passaria a ser gestão de risco entre Estados inconquistáveis.
Dez anos depois, o Secretário de Estado norte-americano John Foster Dulles formulou a “Doutrina de Retaliação Maciça”: os EUA reconheciam a impossibilidade de contrariar o aparecimento de insurgências e de conflitos regionais no resto do mundo através de guerras ou envolvimentos convencionais – como as da Coreia, Vietname, Taiwan (Ilhas Quemoy e Matsu), e Guatemala (operação PBSUCCESS) – e assumiam a necessidade de criar um novo sistema que providenciasse “a máxima proteção a um custo aceitável”, através de “uma grande capacidade de retaliação, instantânea, dotada de meios e em locais da nossa escolha”. A 16 de março de 1954, Dulles anunciou que o Presidente norte-americano não precisava de autorização do Congresso para ordenar “retaliações nucleares instantâneas” em conflitos regionais. Em consequência, qualquer guerra regional poderia desencadear uma guerra nuclear.
A “Doutrina da Retaliação Maciça” apenas se podia manter enquanto os EUA dispusessem de uma clara superioridade em qualidade ou quantidade das armas nucleares, caso contrário abriria a porta a retaliações avassaladoras.
Aproximavam-se, no entanto, tempos em que a União Soviética, não apenas teria acesso à arma nuclear (como ocorrera em 1949 e, do ponto de vista termonuclear, em 1953), como alcançaria um estatuto de paridade com os EUA, e até os ultrapassaria.
Pior ainda, o aparecimento de sistemas de mísseis intercontinentais tornava o território dos EUA vulnerável a um ataque nuclear a partir da URSS, que por sua vez já se encontrava, há muito, desprotegida perante os países nucleares europeus da NATO.
Neste novo contexto, qualquer conflito regional pode levar a um ataque nuclear maciço, mas a este seguir-se-ia uma retaliação da potência atómica adversária que aniquilaria a primeira. Pelo caminho, contaminava-se o mundo por milhares de anos e entrava-se num inverno nuclear. O novo equilíbrio chama-se MAD — “Destruição Mútua Assegurada”: cada ataque nuclear apaga o atacante. Resultado: empate nuclear e incentivo à prudência no topo, não licença para aventuras.
Agora, o risco de uma potência nuclear empregar bombas atómicas num conflito regional passa a ser demasiado elevado para poder ser equacionado. Que país se atreveria empregar armas nucleares numa guerra regional, se isso poderia levar à possibilidade de deflagração nuclear global? Quanto mais devastadoras forem as consequências das armas nucleares nuclear, mais relutância teriam os líderes políticos – responsáveis – em empregá-las. A posse de armas nucleares transforma-se numa desvantagem a nível regional: todo o mundo começa a perceber que a ameaça de emprego da bomba atómica éum “bluff” que jamais será utilizado. E isso encoraja líderes políticos – temerários – a iniciar guerras regionais. O excessivo poder nuclear leva à paralisia da vontade de projetar a força atómica. E repare-se que isso já ocorria antes mesmo do MAD: embora os EUA tivessem um claro monopólio nuclear até 1949 e superioridade até cerca de........





















Toi Staff
Penny S. Tee
Gideon Levy
Sabine Sterk
Mark Travers Ph.d
Gilles Touboul
John Nosta
Daniel Orenstein