A espécie e as pessoas na sexualidade cristã
Um dia, numa das minhas aulas, alguém perguntou, sem qualquer intuito provocador, se os católicos podiam ter prazer sexual. Estimo que se terão passado dois segundos para perceber onde estava e com quem estava. Então, dei-me conta que era uma questão que caracterizava perfeitamente a generalidade do meu público e o que cursavam, tendo dito para mim mesmo o famoso dito que, no flagrante grego em que o conhecemos, diz «tautēn iatré therápeuson seautón». Depois disse “sim, claro, como poderia ser o contrário?” e prometi escrever com maior detalhe o que iria dizer brevemente nessa ocasião.
Regresso, aqui, a esse tema e desde outra perspetiva, pois creio-o fundamental para a maturidade cristã e até humana – estoutra, à qual creio que todos nós aspiramos.
Às vezes esquecemo-nos disto, mas trata-se de uma lei de todos os seres que estão vivos: a nossa biologia não nos permite viver perenemente ao nível biológico. A vida e o tempo, em que desfruímos da vida, são dos maiores dons de Deus. São mesmo a moldura para todas as demais ofertas que Ele incessantemente nos está a dar ao dar-Se-nos continuamente. Mas aqui, e como bem reconheceu C.S. Lewis, surge um “choque” entre a vida como dom divino e a vida que se encaminha para a morte.
A biologia não conhece a Deus e, assim, desenvolveu um astuto mecanismo psicológico para preservar a nossa espécie. Sabemos todos do que se trata: a atração sexual que nos leva a reproduzir-nos para que a nossa espécie sobreviva. Um filho é algo de maravilhoso e comovente, tal como o é meio, cheio de possíveis delícias e prazeres, como o mesmo é naturalmente concebido.
PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR
Mas devido àquele mecanismo, sabemos, bem no fundo, que cada filho também é sinal da substituição das gerações. Sinal, pois, da nossa morte. Vitória da “imortalidade” da espécie graças à “mortalidade” do indivíduo. Uma espécie que nos engana e que parece não se interessar minimamente connosco. Como poderia interessar-se?
Mas isto não precisa de ser assim. Nós é que nos podemos interessar e não nos deixarmos enganar quando, pressentindo em nós um vazio que é sinal de um mistério maior do que nós mesmos, ouvirmos os “cânticos de........
© Observador
visit website