menu_open
Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Alain Delon, Pedro Nuno Santos e o desenrasca de Montenegro

11 0
03.10.2024

“Para que tudo permaneça igual, é necessário que tudo mude.” Esta frase icónica de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, imortalizada na adaptação cinematográfica de “O Leopardo”, ganha profundidade especial quando pronunciada com o charme e a presença imponente de Alain Delon, que nos deixou há poucas semanas, no papel de Tancredi Falconeri, sob a direção de Visconti.

Delon, com o seu porte elegante e olhar penetrante, não só capta a essência da nobreza italiana em tempos de mudança como também, de forma irónica, parece refletir a realidade política portuguesa. Em Portugal, os líderes dos partidos tradicionais e de Governo, tanto do PSD como do PS, adornam-se com discursos de mudança e inovação, mas, tal como no filme, o resultado revela-se como mero jogo de aparências, onde as verdadeiras transformações de que o país necessita continuam a ser sistematicamente adiadas.

Assistimos a um círculo vicioso em que a mudança, em vez de ser sinal de progresso, parece mais uma estratégia calculada para manter o status quo intacto. Mudam os protagonistas (temporariamente), muda a semântica, mas as estruturas, as práticas e, sobretudo, os resultados permanecem teimosamente iguais. Veja-se o recente jogo político entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos: é o equivalente moderno deste teatro de aparências.

Política

Leia também

Montenegro, com as suas promessas de reformas que supostamente irão transformar Portugal, assume o papel de reformador, mas com uma “elegância” que parece mais preocupada com a imagem e as próximas eleições do que com o impacto real das suas propostas, limitadas, em grande medida, até agora, à questão do IRS Jovem. Por outro lado, Pedro Nuno Santos, que se apresenta como o herdeiro da tradição socialista, promete defender os valores da esquerda, mas acaba por repetir os mesmos chavões que, há décadas, mantêm o país preso numa mediocridade estagnada.

Ambos encarnam lados opostos de uma mesma moeda, onde o objetivo central não é transformar o país, mas preservar o poder e a influência sobre um eleitorado cada vez mais cético. Em ambos os casos a preocupação maior é não perder a face: Pedro Nuno Santos teme cair, enquanto Montenegro, embora secretamente deseje eleições, não quer ficar para a história como o responsável por precipitar a queda do seu Governo.

A superficialidade que caracteriza a política portuguesa nas últimas décadas foi algo que vozes como a de Francisco Lucas Pires já denunciavam nos anos 80. Lucas Pires sublinhava a urgência de uma mudança de mentalidade em Portugal, apelando a que o país olhasse para o futuro e........

© Expresso


Get it on Google Play