Morte solitária, fenômeno global e manifestações no Brasil
A solidão não é um problema que afeta apenas idosos. Entre moradores de rua, a morte solitária é uma realidade frequente. Sem acesso a cuidados médicos adequados, sem vínculos familiares e socialmente isolados, esses indivíduos são especialmente vulneráveis
Viver é um ato solitário desde sempre. Por mais que estejamos rodeados de pessoas, amigos, familiares e colegas, existe um espaço dentro de nós que é intransponível e pessoal. Um espaço em que a solidão é uma constante, um companheiro mudo que, mesmo em meio à multidão, nos faz lembrar que, no fundo, estamos sozinhos. Em algumas partes do mundo, como no Japão, essa solidão se manifesta de forma trágica, especialmente entre idosos, no fenômeno conhecido como kodokushi, ou "morte solitária".
Essa realidade me remete à minha infância em Ibiá, onde a morte de Zé Bem, morador de rua conhecido por todos, me marcou profundamente. Ele foi encontrado morto em seu casebre, dias depois de falecer. Minha mãe, que funcionava como uma assistente social informal na cidade, sempre se preocupava com moradores de rua que passavam pela nossa casa para uma refeição ou lanche. Quando alguém ficava ausente por alguns dias, ela dava o alarme, e logo alguém era enviado para procurar. Foi assim que encontraram Zé Bem.
Sua morte solitária e o impacto que causou na comunidade são reflexo em menor escala do que acontece no Japão. Lá, um país que se orgulha de sua........
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