Mil tons de cinza
Lor/Reprodução
Nada de sensual nas cinzas que escondem o azul do céu. O nosso Belo Horizonte ficou enfumaçado. O Brasil arde em labaredas nunca antes vistas. As chamas que consomem todos os biomas são o eco de um grito desesperado da Terra, um lamento que ecoa por entre as árvores caídas, o solo carbonizado e o ar sufocante.
O resultado é a falta de estrelas, o sol vermelho e a noite que chega mais cedo. O clima desértico seca as mucosas, a pele, os brônquios e os rios que nos navegam. Estamos secando por fora e por dentro. Como uma planta arrancada de suas raízes, nos desidratamos lenta e dolorosamente, em um processo que parece irreversível.
A sensibilidade para a realidade cinza que nos espera logo ali é quase nenhuma. O egoísmo e o ato reflexo de viver não nos permite enxergar o óbvio. Continuamos queimando nossas matas e o futuro da civilização. Em um ato de cegueira coletiva, fechamos os olhos para as consequências de nossas ações, preferindo a ilusão de que tudo ficará bem, que de alguma forma encontraremos uma saída. No entanto, a verdade é que continuamos queimando o tempo, nosso bem mais precioso, que está se esvaindo.
O planeta sobreviverá e se recuperará da tragédia humana nos próximos milhões de anos. Já passou por catástrofes antes – meteoros, eras glaciais, erupções vulcânicas devastadoras – e cada vez encontrou uma nova forma de renascer. Nossos descendentes, no entanto, não tenho tanta certeza.
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