O menino a quem os amigos dos pais chamavam “Húngaro“ – apelido criado quando em 1960 a Hungria veio jogar em Braga o campeonato europeu de juniores – nasceu com uma personalidade inquieta, aliás, irrequieta, insatisfeita, curiosa, desafiadora, dialogante, muito social, brincalhona, pensadora, sempre demagógica e com gosto pela discussão.

No entanto algo de verdadeiramente estrutural em Evandro da Costa Lopes foi a sua alma bracarense de uma dimensão extraordinária.

De facto, se fosse possível fazer essa comparação dir-se-ia que o Evandro da Costa Lopes estaria para Braga como estão para a nossa cidade o Arco da Porta Nova ou a Sé de Braga.

Era um bracarense que amava como poucos a sua cidade que com ela interagiu toda a sua vida e que cresceu entre as pedras das suas calçadas.

Essa avidez irrequieta, curiosa e inquietante da sua personalidade foi a responsável, por ser um grande estudioso sobre a história de Braga, das suas igrejas, dos seus museus, das suas festas populares, dos seus cafés, das suas tascas, das suas lojas e dos seus mais ilustres filhos.

Essa nunca satisfeita curiosidade e o gosto pela atividade alfarrabista, herda-a também por influência do senhor seu pai, o senhor Abel Lopes, alfarrabista, figura magra e elegante, sempre muito bem penteado e que vendia as suas publicações debaixo da Arcada.

O nosso Evandro, nosso porque de todos os bracarenses, por volta dos 10 a 12 anos, já também escuteiro, colaborava, nas visitas guiadas à Sé de Braga e mais tarde às suas capelas e ao seu museu, onde distribuía também uns panfletos.

Uma das suas curiosas funções, marca da época, era a de fornecer um echarpe às senhoras que entravam nesse templo sagrada com os ombros mais descobertos.

Segundo o próprio Evandro escreve com humor, após os anos 67/68 quando Mary Quant inventou a minissaia os responsáveis da Sé fechavam os olhos para não perderem a freguesia, ou melhor, agora digo eu, talvez os abrissem, o que Evandro também fazia e que, segundo escreveu, lhe proporcionava algum deleite.

A grande paixão de Evandro foi sempre debater a sua cidade quer seja nas tertúlias e debates no estabelecimento FARRICOCO ou nos blogs e jornal sátiro do mesmo nome.

Foi assim também no restaurante Conde D. Henrique que gerenciava, com a presença de figuras gradas da nossa cidade. Isto para não deixar de fora os blogs “Alfarrábio de Braga” ou o seu programa no YOUTUBE “Memórias de Braga pelo Filho do Alfarrabista” ou na sua publicação “História da Bola” em Braga.

Sempre numa linguagem simples, divertida, muitas vezes controversa, mas sempre entendida pelo povo, com o máximo de rigor que conseguia e em jeito do homenagem ao seu pai.

Sem deixar de referir o papel que teve na criação do futebol feminino do seu Sporting Club de Braga e de também ter tido o seu papel pela preservação das Sete Fontes, tendo sido na associação Bravos da Boa Luz, que criou e dinamizou para a salvaguarda das tradições populares em Braga, uma das suas mais relevantes obras.

O seu gosto pelo convívio foi bem patente já, quando mais debilitado, tinha um gosto enorme em receber os amigos em casa para longas e animadas conversas, deixando normalmente os encontros registados em fotografias no Facebook.

Seria infindável falarmos da atividade do nosso Evandro sendo a sua caraterística principal a sua grande alma bracarense.

Como disse o seu filho João Lopes, “que Braga saiba preservar a memória do seu pai que tanto tempo de vida lhe dedicou”.

Assim, o Grupo parlamentar do PSD de Braga propõe o seguinte:

Primeiro, que a divisão da Cultura do Município de Bragavanalise o espólio que Evandro Costa Lopes deixou, no sentido de averiguar o interesse em ser pertença do município, sendo condição necessária que a sua família dê o seu acordo e seja devidamente compensada.

Segundo, que seja dada a uma rua o nome de Evandro Costa Lopes.

Terceiro, um minuto de silencio, por parte desta Assembleia Municipal, a este exemplar ilustre bracarense.

NOTA: Não é habitual usar este espaço para me referir a outras atividades que exerço sejam públicas ou privadas, no entanto, neste caso resolvi apresentar o voto de pesar que, enquanto deputado municipal do PSD, apresentei na Assembleia Municipal pelo falecimento de Evandro Lopes e que, como o voto apresentado pelo CDS/PP, foi aprovado por unanimidade. Não é apenas o voto de sentido pesar pela morte de um amigo mas também é um voto de admiração que tenho por todos aqueles genuinamente bracarenses que, com todos os seus defeitos e virtudes, amam verdadeiramente a nossa terra.

QOSHE - O voto de pesar apresentado na Assembleia Municipal a Evandro Lopes - Joaquim Barbosa
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O voto de pesar apresentado na Assembleia Municipal a Evandro Lopes

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08.05.2024

O menino a quem os amigos dos pais chamavam “Húngaro“ – apelido criado quando em 1960 a Hungria veio jogar em Braga o campeonato europeu de juniores – nasceu com uma personalidade inquieta, aliás, irrequieta, insatisfeita, curiosa, desafiadora, dialogante, muito social, brincalhona, pensadora, sempre demagógica e com gosto pela discussão.

No entanto algo de verdadeiramente estrutural em Evandro da Costa Lopes foi a sua alma bracarense de uma dimensão extraordinária.

De facto, se fosse possível fazer essa comparação dir-se-ia que o Evandro da Costa Lopes estaria para Braga como estão para a nossa cidade o Arco da Porta Nova ou a Sé de Braga.

Era um bracarense que amava como poucos a sua cidade que com ela interagiu toda a sua vida e que cresceu entre as pedras das suas calçadas.

Essa avidez irrequieta, curiosa e inquietante da sua personalidade foi a responsável, por ser um grande estudioso sobre a história de Braga, das suas igrejas, dos seus museus, das suas festas populares, dos seus cafés, das suas tascas, das suas lojas e dos seus mais ilustres filhos.

Essa nunca satisfeita curiosidade e o gosto pela atividade........

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