Ao som da música de José Calvário “E depois do Adeus”, primeira senha da revolução do 25 de abril, foi derrubado um regime totalitário, antidemocrático, caduco, responsável pelo atraso de Portugal, com uma política ultramarina desastrosa, ao arrepio dos ventos democráticos por toda a Europa ocidental e no qual o povo, sem liberdade e sem democracia, não poderia escolher o seu destino.

Não alinho, no entanto, é nas ideias de alguns que pretendem impor que se ignore ou minore algumas consequências nefastas de acontecimentos evitáveis, a seguir à revolução e que mancham fortemente o período a seguir a abril de 1974. Também fazem parte da nossa história e Nação que se preze não os esquece.

Dizer que demos independência às colónias é de uma inexatidão total. O que Portugal fez foi abandonar as antigas colónias. Prova disso foi a ocupação que as ex colónias tiveram logo à saída de Portugal por outros países de regimes comunistas, da órbita da antiga União Soviética, e originaram guerras civis fratricidas, com a acumulação de fortunas pela nomenclatura, em contraste com a pobreza do povo, sem eleições livres, liberdade de expressão, opinião e sistemas de partido único.

Vergonhoso também é o fraco e indigno apoio que Portugal dá aos antigos combatentes do ultramar que serviram a sua pátria, bem como o tratamento dado aos portugueses, denominados “retornados” e que foram por muitos considerados como portugueses de segunda, semelhantes até a algumas atitudes xenófobas que ocorrem hoje em Portugal.

Dignos de intenso remorso nacional deverão ter os africanos portugueses que que serviram condignamente Portugal, quer nos órgãos administrativos portugueses, quer em combate, que foram completamente deixados à sua sorte, objetos de vingança ou sevicias difíceis de imaginar!

No entanto não foi apenas ao 25 de abril que devemos a liberdade e a democracia, mas também ao 25 de novembro.

Como lapidarmente disse o General Ramalho Eanes, recentemente, o 25 de novembro foi a continuação do 25 de abril e a história não se apaga.

Portugal, de abril de 1974 a 25 de novembro de 1975 correu o risco de substituir uma ditadura por outra de sinal contrário, como aliás, avisou Mário Soares, no célebre debate com Alvaro Cunhal na RTP no dia 6 de novembro de 1975.

Como foi possível o PS não ter querido celebrar no Parlamento o 25 de novembro ?

Hoje em dia, ultrapassado o totalitarismo de outrora, a democracia enfrenta outros perigos graves com o ascender de populismos de extrema-direita e extrema- esquerda.

Nos dias de hoje é facilmente e falsamente rotulado de fascista, de extrema direita e outros epítetos quem esteja contra as ideias pretensamente progressistas e quase sempre minoritárias de alguns. O que não falta é gente a adjetivar negativamente os outros.

Por outro lado, tendo o regime ditatorial comunista sido totalmente derrotado no século XX hoje em dia tenta-se obter os mesmo efeitos, mas desta vez sem a revolução, a ditadura do proletariado ou a luta de classes.

O esquema é simples:

É o de deixar os aspetos mais importantes da vida das pessoas unicamente dependentes dos serviços estado, com reduzida possibilidade de escolha por parte do cidadão e com impostos ao máximo. Os cidadãos, pobres, escravizados pelo que o estado pode oferecer, amarram-se desesperados aos partidos do poder estadual, típica síndrome de Estocolmo, pensando falsamente que só assim conseguem sobreviver.

Algo está muitíssimo errado no sistema do nosso regime democrático quando passado 50 anos após o 25 de abril o povo enfrenta muitos graves problemas de falta da habitação, de precariedade do emprego, na destruição do SNS, de problemas da educação e de deficientes condições de vida de várias classes profissionais e isto após anos e anos de governos de esquerda democrática com a esquerda mais retrógrada e nada democrática. Um ambiente perfeito para a subida dos extremos políticos.

Em Portugal, por exemplo, para vermos quem são os partidos verdadeiramente democráticos é só percebermos como é a vida interna de cada um: se permitem diferenças de opinião no seu seio, se há confronto democrático para a escolha dos seus líderes, o que acontece aos militantes que pensam diferente, etc..

Como dizia Sá Carneiro, “democrata, é aquele que pratica a democracia e não aquele que apenas a reivindica”.

Por isso as liberdades e democracias conseguidas com o 25 de abril terão de ser sempre aperfeiçoadas e desenvolvidas e intransigentemente defendidas face aos novos desafios e ameaças que hoje enfrentam.

QOSHE - O 25 de Abril e as novas ameaças à Democracia - Joaquim Barbosa
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O 25 de Abril e as novas ameaças à Democracia

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24.04.2024

Ao som da música de José Calvário “E depois do Adeus”, primeira senha da revolução do 25 de abril, foi derrubado um regime totalitário, antidemocrático, caduco, responsável pelo atraso de Portugal, com uma política ultramarina desastrosa, ao arrepio dos ventos democráticos por toda a Europa ocidental e no qual o povo, sem liberdade e sem democracia, não poderia escolher o seu destino.

Não alinho, no entanto, é nas ideias de alguns que pretendem impor que se ignore ou minore algumas consequências nefastas de acontecimentos evitáveis, a seguir à revolução e que mancham fortemente o período a seguir a abril de 1974. Também fazem parte da nossa história e Nação que se preze não os esquece.

Dizer que demos independência às colónias é de uma inexatidão total. O que Portugal fez foi abandonar as antigas colónias. Prova disso foi a ocupação que as ex colónias tiveram logo à saída de Portugal por outros países de regimes comunistas, da órbita da antiga União Soviética, e originaram guerras civis fratricidas, com a acumulação de fortunas pela nomenclatura, em contraste com a pobreza do povo, sem eleições livres,........

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