Vivemos um domingo de eleições como já não vivíamos desde há décadas com uma enorme incerteza das expectativas e uma forte surpresa dos resultados, numa luta muito renhida que foi motivadora para os eleitores que voltaram em força às urnas, vencendo claramente a abstenção.

E, se entre as duas forças políticas mais votadas, se registou um quase empate nos resultados e uma mudança naquela que segura o poder de governar, foi na chegada de uma terceira alternativa que se ficou a registar a grande mudança da noite. Foi esta tomada de atitude dos portugueses que estavam afastados das decisões políticas durante as eleições passadas o que mais marcou os resultados deste ato eleitoral. E que me parece fundamental avaliar e enfrentar.

Não podemos deixar de considerar como muito relevante que mais de um milhão de pessoas tenham votado num partido que defende uma solução antissistema, dos quais possivelmente seiscentas mil voltaram a votar propositadamente para fazer mudar Portugal.

Esta atitude, muito festejada por todos os partidos do sistema, provavelmente porque é politicamente correto fazê-lo, foi motivada por uma enorme vontade de fazer Portugal sair do caminho por onde os partidos e os seus líderes têm conduzido este nosso país.

A força deste partido foi sempre maior nos distritos em que há maior pobreza, maior insegurança e menor qualidade de vida.

Nas zonas em que a vida continua a ser real e não teórica, como é a vida das grandes cidades, cheias de pensadores da modernidade e de problemas que nada têm a ver com aquilo que preocupa o comum dos mortais.

Foram votos de pessoas que não gostam de ser preteridas em relação a minorias sobreprotegidas. Que gostam de receber imigrantes, mas não de se sujeitar às suas normas de vida ou enfrentar piores condições do que aqueles que entram no nosso país para encontrar uma alternativa à desgraça que viviam nos sítios de origem.

Eleitores que querem ordem, seriedade, rigor, verdade, justiça e verdadeira liberdade.

Pessoas que estão fartas que lhes mintam, fingindo que o que estamos a viver é melhor do que aquilo que elas naturalmente escolheram.

E é esta mudança que foi exigida por este volume imenso de contestação que não podemos deixar de considerar.

Este mais de um milhão de votantes são aqueles que estão fartos e que já aceitam afirmar-se contra o regime e o sistema. Mas, dentre aqueles que ainda acreditam que vale a pena lutar pela democracia que conhecemos e que se sentem menos cómodos a assumir atitudes mais radicais, muitos haverá que concordam com tudo aquilo que foi acima dito.

Pretender que somos mais democratas que os portugueses que votaram no Chega é presunção e é um fascismo a que a esquerda autoritariamente nos quer obrigar e que não aplicou a si própria.

Desconsiderar 18% dos eleitores portugueses que foram votar no domingo põe em causa a democracia e é um péssimo presságio para o cinquentenário do 25 de abril.

Eu não acho que o Chega tenha a solução para os seus eleitores, mas estou seguro de que devemos abrir os olhos e compreender que este caminho de mentira que temos vivido acabará por destruir a nossa liberdade.

QOSHE - Não se pode ignorar o que justifica o voto no Chega - Bruno Bobone
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Não se pode ignorar o que justifica o voto no Chega

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15.03.2024

Vivemos um domingo de eleições como já não vivíamos desde há décadas com uma enorme incerteza das expectativas e uma forte surpresa dos resultados, numa luta muito renhida que foi motivadora para os eleitores que voltaram em força às urnas, vencendo claramente a abstenção.

E, se entre as duas forças políticas mais votadas, se registou um quase empate nos resultados e uma mudança naquela que segura o poder de governar, foi na chegada de uma terceira alternativa que se ficou a registar a grande mudança da noite. Foi esta tomada de atitude dos portugueses que estavam afastados das decisões políticas durante as eleições passadas o que mais marcou os resultados deste ato eleitoral. E que me parece fundamental avaliar e enfrentar.

Não podemos deixar de considerar como muito........

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