O Botafogo não é apenas paixão, é amor
Tudo começou quando um grupo de amigos resolveu usar um símbolo do universo sem pedir permissão. Não há nada mais sagrado para o universo do que uma estrela. E reparando direito, não é uma estrela, é um planeta, Vênus, aquele que brilha nos céus nas manhãs dos dias de verão e encantou os jovens que criaram o Botafogo no início do século passado. E por não ser apenas um time de futebol, também competia nas regatas. Foram eles que se deram com o planeta brilhando intensamente numa manhã plena de mistérios no Rio de Janeiro e acharam genial colocar uma estrela na camisa do clube. Estrela solitária. Um planeta feito estrela, sem pedir permissão. O universo não gostou e resolveu punir.
Assim, desde os anos setenta, quase tudo é decepção, desgosto, maldição. Azar? Não, azar é coisa passageira, no caso do Botafogo, o sofrimento parece ser estigma, está impregnado na alma, sem chances de escapes.
Torcer para o Botafogo é como entrar num nevoeiro ilusório a bordo de um navio sem leme. Às vezes é nuvem, noutras vezes é fumaça, não se sabe se navega acima do crepúsculo ou abaixo da poeira insana que permeia tudo em volta.
Não estou sozinho nessa loucura, nem somos tão poucos como muitos imaginam.
Paulo Mendes Campos marcava encontros com Clarice Lispector no Maracanã lotado em dias de jogos do Botafogo. Ele se transformava, xingava o juiz, os jogadores adversários, queria sair no tapa com a torcida dos outros times, especialmente aqueles vestidos de preto e vermelho, naquela época fregueses da estrela solitária. Clarice se assustava com a transformação: de repente, diante de seus enormes olhos esverdeados, o poeta era um ogro insano. “Não venho nunca mais”, ela prometia para si mesma. Mas já no outro jogo, botafoguense apaixonada que também era, lá estava ela, balançando a bandeira preta e branca, admirada e tocada pela beleza do momento, dizia para Paulo: “grite meu bem, é o nosso amor, é o nosso fogão, é a chama que nos aquece”. O namoro não deu certo, afinal, nada pode dar certo tendo o Botafogo como pano de fundo. Elza Soares que o diga. Pobre Garrincha.
Vinicius de Moraes, era outro apaixonado pelo time da estrela solitária.........
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