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Uma carta aberta ao chanceler Friedrich Merz: A Segurança é indivisível — e a história importa

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19.12.2025

Publicado iriginalmente no Berliner Zeitung

Chanceler Merz,

O senhor tem falado repetidamente da responsabilidade da Alemanha pela segurança europeia. Essa responsabilidade não pode ser cumprida por meio de slogans, de memória seletiva ou da normalização constante do discurso de guerra. As garantias de segurança não são instrumentos unilaterais. Elas funcionam nos dois sentidos. Este não é um argumento russo, nem americano; é um princípio fundamental da segurança europeia, explicitamente consagrado no Ato Final de Helsinque, no arcabouço da OSCE e em décadas de diplomacia do pós-guerra.

A Alemanha tem o dever de abordar este momento com seriedade histórica e honestidade. Nesse aspecto, a retórica recente e as escolhas políticas ficam perigosamente aquém do necessário.

Desde 1990, as principais preocupações de segurança da Rússia têm sido repetidamente descartadas, diluídas ou diretamente violadas — muitas vezes com a participação ativa ou a aquiescência da Alemanha. Esse histórico não pode ser apagado se a guerra na Ucrânia deve terminar, e não pode ser ignorado se a Europa pretende evitar um estado permanente de confrontação.

No final da Guerra Fria, a Alemanha deu aos líderes soviéticos e depois russos garantias repetidas e explícitas de que a OTAN não se expandiria para o leste. Essas garantias foram dadas no contexto da reunificação alemã. A Alemanha se beneficiou enormemente delas. A rápida unificação do seu país — dentro da OTAN — não teria ocorrido sem o consentimento soviético baseado nesses compromissos. Fingir posteriormente que essas garantias nunca tiveram importância, ou que foram meras observações casuais, não é realismo. É revisionismo histórico.

Em 1999, a Alemanha participou do bombardeio da Sérvia pela OTAN, a primeira grande guerra conduzida pela Aliança sem autorização do Conselho de Segurança da ONU. Isso não foi uma ação defensiva. Foi uma intervenção que estabeleceu precedentes e alterou fundamentalmente a ordem de segurança do pós-Guerra Fria. Para a Rússia, a Sérvia não era uma abstração. A mensagem foi inequívoca: a OTAN usaria a força além de seu território, sem aprovação da ONU e sem considerar as objeções russas.

Em 2002, os Estados Unidos se retiraram unilateralmente do Tratado de Mísseis Antibalísticos, um pilar da estabilidade estratégica por três décadas. A Alemanha não levantou objeções sérias. No entanto, a erosão da........

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