Debaixo das estrelas
O nome dele é Aníbal, “como o presidente”, diz com um sorriso vazio de dentes.
Vive na rua há tanto tempo que perdeu a noção dos anos. Porquê? – pergunto-lhe e a resposta é um desconcertante “porque sim”.
Não procura nenhum albergue a não ser quando quer tomar um banho ou a fome tem já dias. Mas evita ao máximo sair daquele vão junto a um supermercado porque sabe que quando voltar já deixou de ser seu.
“Já tive que andar à porrada com um preto que queria o meu lugar. Todos querem ficar aqui: é abrigado e fica-se com as sobras.”
As sobras são o lixo dos produtos já deteriorados. Um luxo para quem nada tem.
A vida na rua é uma selva onde reina a lei do mais forte. O racismo impera apenas por uma questão de sobrevivência. Não é a cor da pele ou o género só por si, que desencadeiam as rixas silenciosas que ocorrem durante a noite, mas sim a defesa do território, um instinto quase animal que estabelece muitas vezes a diferença entre a vida e a morte.
Não é fácil falar-se com um sem abrigo. Falar mesmo, fazer com que se abra sem medo.
Ganhar-lhe a confiança é trabalho de muitas aproximações que podem levar meses, ou mesmo anos.
Nos últimos tempos, este número cresceu a um ritmo que........
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