O teólogo brasileiro Leonardo Boff escreveu lá nos anos 1970 que há, dentro de cada coisa que existe, a existência de um tanto de outras coisas.

Um pano de prato pode não ser só um pano de prato a depender do que ele presenciou na cozinha da sua família. Boff defendeu: os sentidos das coisas do mundo nascem do lado de dentro de cada pessoa, depois é que se espalham.

Você sabe disso quando não renuncia àquela camisa que nunca passou nem perto de usar, dada pelo seu avô numa noite de Natal aos 13 anos, quando o futuro era uma coisa que só acontecia aos outros. Duas semanas depois aconteceu a sua passagem. De objeto, a roupa virou um sujeito que te lembra um portão azul, baixo, e um senhor vindo com as mãos escondidas nas costas dizendo que tem uma surpresa para o neto que não vê, tem tanto tempo. Até o cheiro daquele dia você é capaz de sentir.

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