Uma defesa das bancas de heteroidentificação das cotas raciais
Quando eu entrei na filosofia da USP, em 2004, via ao meu redor uma turma que não refletia a diversidade racial de São Paulo. Hoje, graças à política de cotas raciais, o panorama é outro. As cotas produziram mais mistura racial num meio elitizado que costumava ser majoritariamente branco. Até onde eu saiba, não prejudicaram a qualidade do ensino.
Só que uma vez aceitas as cotas raciais, um desafio se impõe: como separar quem deve e quem não deve ter acesso a elas? Nas últimas semanas, vimos dois casos na USP em que candidatos pardos inscritos por cota racial tiveram sua matrícula negada, gerando indignação.
O Brasil é um país miscigenado, no qual a divisão da população no binarismo "brancos" e "negros" não dá conta da realidade. A própria categoria "negro", conforme usada hoje em dia pelo Estatuto da Igualdade Racial, é ampla e inclui até pessoas sem nenhuma gota de sangue africano, como são os mestiços de brancos e indígenas. E, no entanto, o racismo e a discriminação racial existem.
Uma política de cotas raciais baseada unicamente na autoidentificação é uma porteira aberta para a fraude. Se um branco de olhos azuis puder ocupar vaga de cota........
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