Estamos viciados em narrativas curtas
Já começo esta coluna tentando criar alguma frase de impacto: vai que o leitor não aguenta ler o texto até o fim. Ler o parágrafo até o fim. Ler a linha até o fim. Também estou sofrendo do mesmo mal. Assim como milhões de outras pessoas, tive meu cérebro transformado pelo imediatismo dos posts, dos vídeos curtos, das frases de 140 caracteres.
Se meu cérebro velho e tão pouco elástico quanto meus quadris se transformou, imagine aquelas cacholas dotadas de jovial plasticidade. Uma amiga que trabalha numa gravadora me contou que muitas crianças já não têm paciência para ouvir uma música inteira: pra que ouvir tudo se podemos colocar direto no refrão?
Tenho um afilhado que fica impaciente quando lhe conto alguma história. Percebi que sua capacidade de atenção dura o mesmo tempo que os shorts a que ele assiste no YouTube: no máximo 60 segundos. Depois, ele começa a se dispersar. Ou então a me pressionar pelo desenlace da narrativa.
Esses dias, na companhia da minha filha e dos meus sobrinhos, dei play numa música do Velvet Underground, de dez minutos. Ficaram indignados: que música bizarra, que saco ter que esperar........
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