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O filho do pai morto

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14.03.2024

"Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é o caos, como tudo aqui. Eu tive a impressão que foram 85 anos jogados fora... Num país como este. E com esse tipo de gente que acabei encontrando. Cuidem das crianças."

"Eu te entendo, Migliaccio. Porque eu, como você, fui do Teatro de Arena. Era urgente que se pusesse a alma brasileira em cena. Depois, e é por isso que te entendo, veio 64. Ficávamos esperando a veraneio nos buscar. Agora, quando sentimos o hálito putrefato de 64, o bafio terrível de 68, agora quando eles promovem a devastação dos velhos, não podemos mais. Eu não tive a coragem que você teve. Mas espera aí, meu amigo, vou logo. Para os que ficam, quero lembrar uma das falas de Pedro Hackers, em Os Fuzis da Senhora Carrar: 'Os que lavam as mãos, o fazem numa bacia de sangue'."

"Cara, ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos 60, 70. Gente, vambora, vambora pra frente! 'Pra frente Brasil, salve a seleção. De repente é aquela corrente pra frente'. (rs) Não era bom quando a gente cantava isso? Vocês estão desenterrando mortos. Vocês estão carregando um cemitério nas costas. Vocês devem estar cansados. Fiquem leves. Não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas. Vamos ficar vivos, por que olhar pra trás? Não vive quem fica arrastando cordéis de caixões."

Esse diálogo público foi travado em maio de 2020, por três astros do teatro e da TV brasileira: Flavio Migliaccio deixou carta antes de se suicidar; Lima Duarte homenageou o amigo........

© UOL


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