menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Portimão no calendário da Fórmula 1: O legado de Paulo Pinheiro

1 0
18.12.2025

Há regressos que não fazem alarde, mas fazem memória. Entram pelo som e ficam na cara. Depois de o Estoril ter sido, nos anos 80 e 90, a nossa porta para a Fórmula 1, e de a última bandeirada ter caído a 22 de setembro de 1996, com a vitória do sempre controverso, destemido e irreverente Jacques Villeneuve, Portugal fez uma travessia no deserto de trinta anos. Até que o ruído bom regressou, desta feita a Portimão, em 2020, numa daquelas ironias felizes da história. Cinco anos depois, já não é exceção: é calendário. A Fórmula 1 regressa ao Autódromo do Algarve em 2027 e 2028, e há qualquer coisa de justo nisto, como se o país finalmente alinhasse ambição, palco e tempo certo.

E muito deste regresso deve-se a Paulo Pinheiro, que foi quem verdadeiramente colocou o Algarve no mapa do automobilismo mundial. O empreendedor e visionário que transformou um sonho improvável numa realidade que trouxe a Fórmula 1 e o MotoGP de volta a Portugal. No final dos anos 90, um jovem portimonense insistia num projeto greenfield, construir um autódromo internacional de raiz, capaz de receber a elite mundial do desporto motorizado numa região de praias, marinas e campos de golfe, soava a quimera. Mas Paulo Pinheiro não era homem de meias medidas. Nem de sonhos pequeninos.

Fui aluno dele no Liceu de Portimão e nas aulas ao sábado — sim, sou desse tempo. E, para ser honesto, o melhor das aulas raramente eram os conceitos. O que nos prendia era ele, a paixão pelas motas, o fascínio dos carros, as aventuras e os sonhos do “stôr”. Era um comunicador nato e tinha aquela competitividade saudável de quem está sempre com vontade de ir mais longe, com a cabeça na obra e não na conversa. E quando a idade trouxe lucidez ao romantismo, ele fez o movimento certo: percebeu que o futuro não estava limitado pelos volantes, passava pelo empreendedorismo. Foi essa combinação, paixão e método, que o levou a idealizar aquilo que muitos, eu incluído, que fui muito crítico com ele, tomavam por impossível: construir um autódromo de classe mundial no Algarve.

Como rezava o poeta, Deus........

© Sapo