O Coração Ainda Bate. O António
Passei os últimos dias a observar o meu pai. Faz uma pausa quando diz a idade: “Oitenta e …” e nós completamos - serão 88, não tarda. O meu pai tem a malandrice sábia de várias gerações nele. Sobreviveu à miséria de um Douro rico em matérias-primas, pobre em igualdade. Depois disso, veio a consciência de estar a trabalhar para gente que se impunha hierarquicamente, num estado que pouco tinha de novo: velhos hábitos, bafientas ideias e costumes.
O meu pai, concluo agora, retirou de cada etapa o melhor que conseguiu. Foi, depois, austero no exercício da paternidade e um marido muito aquém do que devia. Vejo-o, no entanto, submerso em saudade e isso emociona-me. Acredito que a minha mãe ficaria contente por nos ver em paz com ele, rindo do que ele conta com piada, aceitando ainda o seu saber que agora já não impõe. Insiste muitas vezes em dizer: “vocês fazem como entenderem”. Isto é uma espécie de sorriso do meu pai que não está à vista. É uma coisa........
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