A retirada dos 400 e tal
Xenofonte foi um homem complexo, nos dias de hoje vestiria Hugo Boss, escreveria para vários jornais e jogaria futebol numa equipa amadora. Foi o que fez, no seu tempo, com efeitos tão estranhos que não é possível saber se era doido ou se teve pouca sorte na vida.
Os seus dias haviam de ser agitados, desde logo por ter nascido 400 anos antes de Cristo, numa época de gente conflituosa, quando o Mediterrâneo e as suas costas orientais viviam mergulhadas em guerras intermináveis. Ele próprio, apesar de ter jeito para pensar e escrever, intrometeu-se em combates e marchou a cavalo contra Esparta. Era ateniense e foi derrotado com Atenas, quando ainda não existiam gregos e cada cidade era um país diferente. Na dúvida dos derrotados Xenofonte contemporizou com os trinta tiranos, trinta proxies de Esparta que durante alguns meses governaram Atenas com brutalidade. Mais tarde, e outra vez a-propósito de mais uma guerra, viria a repetir a sua simpatia por Esparta e a confrontar Atenas. Voltou a sair-se mal, todas as cidades gregas se saíram mal. Saiu-se bem a Pérsia, que havia sido chamada pela Liga de Corinto como aliada – ainda não se chamava Irão nem conhecia o Profeta por nascer, mas acabou por impor a paz e ocupar a Jónia. As desastradas decisões de Xenofonte, ou a pouca sorte das armas, por mais do que uma vez condicionaram o seu futuro. Por mais de uma vez foi relegado da sua cidade, obrigado ao mercenarismo, remetido a exílios.
O bravo Xenofonte, mal visto pela sua Atenas depois da guerra do Peloponeso e do governo dos trinta tiranos, tomou conselho de Sócrates e do oráculo de Delfos. Confundiu tudo e pôs-se ao serviço de Ciro, o persa, contra Artaxerxes, outro persa. Pensava ser o seu destino e era apenas uma palermice. Ele que também era filósofo, escrevia tratados e tinha exaltações aristocráticas, partiu com os seus companheiros gregos. Perdidos numa terra estranha depois de uma batalha sem vencedores, tomaram todos o caminho de regresso. Foi uma retirada formidável. Não foram exactamente repatriados, como fazem os modernos estados pacientes – ou mais exactamente enxotados com o rabo entre as pernas e metidos num avião depois de uma refeição caridosa e um banho. Voltaram nobremente à sua própria custa, no meio de infinitas dificuldades, como gente honrada – e até Cícero, que hesitava entre a sabedoria e o cinismo, viria a considerar Xenofonte um exemplo de virtude.
Realmente, tudo isso aconteceu como então aconteciam as coisas, sem uma divulgação adequada pela Hélade, quase sem brilho. As televisões da época sofriam de não haver electricidade nem díodos, os jornais ainda dependiam completamente do pesado mármore de Naxos. Fidipides, o primeiro maratonista, tinha morrido para dar a mais simples das notícias – “vencemos”, uma única palavra a relatar toda a espantosa vitória dos atenienses sobre os persas. E, enfim, apesar de investigações subaquáticas exaustivas à procura da Atlântida e outras pedras, nunca foram encontrados telemóveis dessa época atirados à água, ou sequer uma faquinha que evocasse um uso normal da manteiga.
Na sua guerra de Ciro contra Artaxerxes teve Xenofonte o infortúnio de viajar por terra – pela Lídia, Cilícia, Império da Babilónia…´e depois direito ao norte, à renomada Bizâncio – sempre por terra, Tivesse ele atravessado para ocidente no seu regresso, a favor........





















Toi Staff
Sabine Sterk
Gideon Levy
Penny S. Tee
Mark Travers Ph.d
Gilles Touboul
John Nosta
Daniel Orenstein
Joshua Schultheis
Rachel Marsden