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Paz e Ucrânia: nem sonâmbulos de 14, nem apaziguadores de 38

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30 de Setembro de 1938. A oeste de Londres, no aeródromo de Heston, Neville Chamberlain – regressado de Munique, onde firmara um acordo com Adolf Hitler –, exibia um papel como se empunhasse um troféu e anunciava, perante uma multidão em júbilo, urbi et orbi, “paz para o nosso tempo”. Em resposta a este aclamado triunfo diplomático, Winston Churchill, espécie de Cassandra do momento, advertiu: “Foi-te dada a escolha entre a guerra e a desonra. Escolheste a desonra, e terás a guerra”. Menos de um ano depois, a História viria a confirmar a terrível sentença da Cassandra.

O diálogo trágico entre esperança ingénua e lucidez amarga, contudo, não pertence apenas ao passado: os seus dilemas ressoam hoje, com intensidade renovada, no momento em que a comunidade internacional procura delinear os contornos de um acordo de paz para a Ucrânia. As palavras de Churchill, que não constituem um convite à beligerância, mas um farol ético e estratégico, devem, hoje com especial acuidade, orientar o caminho que somos chamados a percorrer. As palavras de Churchill servem para nos impedir de confundir a paz aparente com a paz verdadeira, ou o silêncio momentâneo das armas com a segurança autêntica dos povos.

É por isso que, neste momento crucial, a nossa bússola deve ser a paz. Uma paz justa, realista e duradoura, e não a paz ilusória e auto-congratulatória que tantas vezes precedeu calamidades históricas.

Dar uma oportunidade às negociações que decorrem em Genebra e noutros fóruns diplomáticos significa reconhecer que o diálogo é........

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