menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

O Peregrino do Absoluto

8 32
tuesday

“A minha ira é a efervescência da minha piedade”, escreveu León Bloy (1846-1917). E esta sua frase é, bem entendida, a chave para toda a sua vida e obra. Bloy, o poderoso e violento escritor de Le Désespéré e La Femme pauvre, está hoje, no entanto, condenado a um ensurdecedor e injusto silêncio. Em Portugal, não se conhecem reedições recentes. Durante a sua vida, este pobre e grande homem de olhar celestial, simultaneamente cândido e desvairado, também foi alvo do ódio gregário e porcino dos seus contemporâneos. É que “Bloy é uma gárgula de catedral que vomita a água do céu sobre bons e maus”, como escreveu o seu amigo Barbeyd’Aurevilly. E essa chusma emburguesada e adiposa da Terceira República Francesa nunca lhe perdoou nem a dissidência nem a honestidade revulsiva com que Bloy os condenava, sozinho contra o mundo.

Mas enquanto esses escritorzecos de salão arrotavam as suas obras de fancaria, masturbando-se uns aos outros em prazenteira frequentação tertúlica, cada qual lambendo as partes felpudas e sacolejando a perninha de contente a cada encómio, Bloy obedecia a uma vocação superior, cumprindo o que ele considerava ser o estricto dever de um escritor: “dizer a verdade, seja ela qual for e quaisquer que sejam os perigos”.

E se quem diz a verdade não merece castigo, a amarga realidade é que essa gentalha desgraçada não só o cobriu de alcatrão e penas, como fez tudo para silenciar esse panfletário e místico selvagem, esse desapiedado polemista e crítico implacável de todas as hipocrisias. Se o expectável seria os católicos........

© Observador