A luta pela verdade (1)
Um professor sabe que a estratégia de ensino mais eficaz é aquela que passa por contar uma história. Afinal, como a tradição da narrative turn defende, o nosso cérebro tende a pensar de forma narrativa e, nas palavras de Jonathan Gottschall, somos animais que contam histórias. Elas ajudam-nos a dar alguma ordem ao caos da vida, embora contenham uma limitação: a lógica narrativa tende a ser gerada a partir de uma oposição superficial entre bons e maus – e, por essa razão, o segundo passo do professor é o de explicar que o mundo é, na verdade, ambíguo e complexo.
A estratégia narrativa foi usada durante décadas no ensino da filosofia quando se procurava, no primeiro ano do secundário, explicar em que consiste esta nova área de estudo. Nova para os estudantes, naturalmente, uma vez que esta história nos fazia recuar cerca de 2500 anos para explicar como é que os filósofos – verdadeiros heróis – tinham surgido como resposta aos sofistas – os maus da fita. De acordo com uma narrativa simplista, os sofistas eram professores gananciosos que vendiam o seu conhecimento a troco de dinheiro e sem qualquer respeito pela verdade. Já os filósofos, personificados na figura de Sócrates, o grego, seriam aqueles que se voltaram contra essa heresia, num esforço moral tão elevado que o ateniense teve de o pagar com a própria vida.
Hoje, o ensino da filosofia está diferente e a maioria dos alunos chega à universidade sem ter ouvido esta história (é-nos dito que a abordagem analítica, que incide sobre problemas e não sobre a história das ideias, é mais científica). O problema é que chegam ao ensino superior sem fazer a mínima ideia de quem foram Sócrates, Platão e os sofistas – embora mantenham a intuição de que os filósofos são os protagonistas de uma história que não compreendem bem. E como também........
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