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Pigmaleão em Belém: o Baile das Estátuas Ocas

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22.12.2025

Na mitologia grega, Pigmaleão foi o escultor que, desencantado com as mulheres reais, esculpiu uma estátua de marfim tão perfeita que se apaixonou por ela, implorando a Afrodite que lhe desse vida. Em psicologia, o “Efeito Pigmaleão” descreve como as nossas expectativas podem moldar a realidade.

Olhando para o atual cortejo de pré-candidatos à Presidência da República, Portugal parece sofrer de uma versão perversa deste mito. O eleitorado, órfão de estadistas e cansado do “marasmo” político que se instalou não como ciclo, mas como doença crónica, tenta desesperadamente esculpir um Presidente na sua imaginação. Projetamos virtudes, colamos esperanças, mas sempre que a estátua ganha vida e começa a falar, o encanto quebra-se.

Não estamos perante um desfile de “homens-projeto”, capazes de superar a caducidade das ideologias; estamos num museu de cera onde as figuras ou derretem sob o calor dos holofotes ou se mostram irremediavelmente ocas.

Vejamos o caso do Almirante Gouveia e Melo. Entrou em cena como o rigor fardado, a eficácia silenciosa. Mas a política tem uma regra cruel: a palavra é prata, mas o silêncio era o seu ouro. O homem que, num momento de ironia trágica disse que precisaria de uma corda e que a usaria se entrasse na política, parece agora usar essa mesma para tentar trepar nas sondagens. O problema é que, quanto mais fala, mais se torna num caso de estudo de um matraquilho nas areias movediças: o mito da autoridade dissolve-se na vacuidade do discurso político. Deixou de ser o salvador da vacinação para ser um........

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