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O "L'Appel du Vide" e a Farsa da Deturpação Política

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22.12.2025

Os franceses chamam-lhe l’appel du vide (o apelo do vazio). Edgar Allan Poe, com a sua precisão gótica, batizou-o de “O Diabinho do Perverso”. É aquela vontade irracional, elétrica e aterrorizante de fazer algo terrível apenas porque sim. Aquele impulso do momento de rir num funeral, de destruir a paz apenas porque o silêncio se tornou ensurdecedor.

Muitas vezes, interpretamos estes pensamentos intrusivos como falhas pessoais. Mas, transpostos para a praça pública portuguesa, eles deixam de ser “falhas” para se tornarem “estratégia”.

Portugal vive hoje um paradoxo sufocante. Somos, estatisticamente, um dos países mais seguros e pacíficos do mundo. Não temos guerras nas fronteiras, não temos violência urbana endémica, temos sol e temos brandos costumes. No entanto, quem aterra no nosso espaço público, do Parlamento ao X (antigo Twitter), passando pelas caixas de comentários, encontra um cenário de terra queimada. O ar é irrespirável, o discurso é tóxico, a autofagia é constante.

Porquê? Porque o “Diabinho do Perverso” em Portugal deixou de ser um sussurro individual para se tornar um megafone nas mãos dos nossos líderes.

É fundamental, e intelectualmente honesto, não culpar apenas o “povo” ou a “cultura”. O português pode ter o seu “Velho do Restelo” interior, cético e pessimista, mas são os atores políticos quem hoje alimenta o monstro. Há uma perceção clara, nas sedes partidárias e nos gabinetes de........

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