Astana e a nova cartografia de Abraão
Há anúncios que não entram na história. Atravessam-na. Quando Trump afirma, do alto de um palanque, que o Cazaquistão se vai juntar aos Acordos de Abraão, não está a fazer diplomacia. Está a fazer geodesia política com a precisão de alguém que risca o mapa com a ponta de um marcador gasto. Uma frase dita num comício torna-se, de imediato, a peça mais recente de um projeto que muitos continuam a chamar reconstrução do Médio Oriente. O termo sobrevive por hábito. Por inércia intelectual. É um rótulo cómodo que funcionou durante décadas e que hoje soa a retórica balofa. O que está realmente a ser reconstruído não é o Médio Oriente, é o perímetro operacional da estratégia e influência americana. A geografia física permanece. A geografia política muda de sítio.
Os Acordos de Abraão nunca foram desenhados para produzir paz. Foram concebidos para produzir ordem. Uma ordem seletiva, funcional, que gere tensões em vez de as resolver. É uma arquitetura que substitui a negociação difícil pela eficiência logística. Conecta aliados, estabiliza fluxos, cria corredores. É uma paz que cabe num memorando e que nunca chegou a caber na vida de quem atravessa Gaza ou a Cisjordânia. É uma paz que programa a região como se fosse uma rede de infraestruturas. E redes não choram, não perdem casas, não têm filhos enterrados. Redes apenas funcionam ou avariam.
É neste tabuleiro que entra o Cazaquistão. Um país que nunca travou guerra com Israel, que não pertence ao círculo histórico das disputas árabes,........





















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